quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

É um Presente Envelhecer

Eu decidi que a velhice é um presente.

Eu sou agora, provavelmente e pela primeira vez em minha vida, a pessoa que eu sempre quis ser. Oh, não meu corpo! Às vezes, eu me aborreço com meu corpo... as rugas, os olhos empapados, e o abdômen caído. Sou surpreendido por aquela pessoa velha que surge em meu espelho, mas eu não ligo e logo parto para outra...

Eu nunca trocaria meus amigos incríveis, minha vida maravilhosa, minha família por menos cabelos grisalhos ou uma barriga mais chata. Quando envelheci, eu me tornei mais amável e menos crítico comigo mesmo. Eu me tornei meu próprio amigo.

Eu não me culpo por comer aquele biscoito extra, ou por não arrumar minha cama, ou por comprar aquela bobagem que eu não vou usar nunca, mas me sinto um vanguardista em meu meio. Eu considero o máximo estar à vontade, ser extravagante.

Eu vi muitos queridos amigos deixarem este mundo muito cedo, antes de eles entenderem a grande liberdade que vem com o envelhecer.

Quem pode me repreender se eu escolher ler ou jogar no computador até as 4 da manhã ou dormir até o meio-dia?

Sozinho, eu posso dançar as melodias maravilhosas dos anos 60 e70, e posso também lamentar um amor perdido, se quero...

Posso ir à praia e nadar de terno, ficar todo encharcado, e mergulhar nas ondas com o abandono que eu decidir, apesar dos olhares contestadores... Eles, também, envelhecerão.

Eu sei que, às vezes, eu me esqueço. Mas, novamente, há coisas na vida que é bom esquecer. E, às vezes, eu me lembro das coisas importantes.

Seguramente, durante anos meu coração esteve magoado. Como um coração pode não chorar quando perde um ser amado, ou quando vê uma criança sofrer, ou até mesmo quando alguém amado sofre um acidente? Mas, as mágoas do coração nos dão força e nos ensinam a compaixão. Um coração que nunca sofreu é rude e estéril, e nunca saberá a alegria de não ser magoado.

Eu sou abençoado por ter vivido tempo bastante para ter cabelos grisalhos e ter meu sorriso jovem, marcando profundamente a minha face. Tantos nunca sorriram e tantos morreram ntes de seus cabelos se tornarem prata.

Quando você envelhece, é mais fácil ser positivo. Você se preocupa menos com que as outras pessoas pensam. Eu não me questiono mais. Eu ganhei, até mesmo, o direito de estar errado.

Assim, respondo sua pergunta, eu gosto de ser velho. Tornou-me livre. Eu gosto da pessoa em que eu me tornei. Eu não vou viver para sempre, mas enquanto eu aqui estiver eu não desperdiçarei meu tempo, lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupando sobre o que será. E, eu comerei sobremesa todos os dias, se assim quiser!

Desconheço a autoria do texto.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Os Limites do Capital são os Limites da Terra


Em 1961 precisávamos de metade da Terra para atender as demandas humanas. Em 1981 empatávamos: precisávamos de um Terra inteira. Em 1995 já ultrapassamos em 10% de sua capacidade de regeneração, mas era ainda suportável. Em 2008 passamos de 40% e a Terra está dando sinais inequívocos de que já não agüenta mais. Se mantivermos o crescimento do PIB mundial entre 2-3% ao ano, em 2050 vamos precisar de duas Terras, o que é impossível. A análise é de Leornado Boff, em seu artigo de estréia como colunista da Carta Maior.

" Uma semana após o estouro da bolha econômico-financeira, no dia 23 de setembro, ocorreu o assim chamado Earth Overshoot Day , quer dizer, “o dia da ultrapassagem da Terra”. Grandes institutos que acompanham sistematicamente o estado da Terra anunciaram: a partir deste dia o consumo da humanidade ultrapassou em 40% a capacidade de suporte e regeneração do sistema-Terra.

Traduzindo: a humanidade está consumindo um planeta inteiro e mais 40% dele que não existe. O resultado é a manifestação insofismável da insustentabilidade global da Terra e do sistema de produção e consumo imperante.

Entramos no vermelho e assim não poderemos continuar porque não temos mais fundos para cobrir nossas dívidas ecológicas. Esta notícia, alarmante e ameaçadora, ganhou apenas algumas linhas na parte internacional dos jornais, ao contrário da outra que até hoje ocupa as manchetes dos meios de comunicação e os principais noticiários de televisão.

Lógico, nem poderia ser diferente. O que estrutura as sociedades mundiais, como há muitos anos o analisou Polaniy em seu famoso livro A Grande Transformação, não é nem a política nem a ética e muito menos a ecologia, mas unicamente a economia. Tudo virou mercadoria, inclusive a própria Terra. E a economia submeteu a si a política e mandou para o limbo a ética.

Até hoje somos castigados dia a dia a ler mais e mais relatórios e análises da crise econômico-financeira como se somente ela constituisse a realidade realmente existente. Tudo o mais é secundarizado ou silenciado.

A discussão dominante se restringe a esta questão: que correções importa fazer para salvar o capitalismo e regular os mercados? Assim poderíamos continuar as usual a fazer nossos negócios dentro da lógica própria do capital que é: quanto posso ganhar com o menor investimento possível, no lapso de tempo mais curto e com mais chances de aumentar o meu poder de competição e de acumulação?

Tudo isso tem um preço: a delapidação da natureza e o esquecimento da solidariedade generacional para com os que virão depois de nós. Eles precisam também satisfazer suas necessidades e habitar um planeta minimamente saudável.

Mas esta não é a preocupação nem o discurso dos principais atores econômicos mundiais mesmo da maioria dos Estados, como o brasileiro que, nesta questão, é administrado por analfabetos ecológicos. Poucos são os que colocam a questão axial: afinal se trata de salvar o sistema ou resolver os problemas da humanidade?

Esta é constituída em grande parte por sobreviventes de uma tribulação que não conhece pausa nem fim, provocada exatamente por um sistema econômico e por políticas que beneficiam apenas 20% da humanidade, deixando os demais 80% a comer migalhas ou entregues à sua própria sorte.

Curiosamente, as vitimas que são a maioria sequer estão presentes ou representadas nos foros em que se discute o caos econômico atual. E pour cause, para o mercado são tidos como zeros econômicos, pois o que produzem e o que consomem é irrelevante para contabilidade geral do sistema.

A crise atual constitui uma oportunidade única de a humanidade parar, pensar, ver onde se cometeram erros, como evitá-los e que rumos novos devemos conjuntamente construir para sair da crise, preservar a natureza e projetar um horizonte de esperança, promissor para toda a comunidade de vida, incluídas as pessoas humanas.

Trata-se sem mais nem menos de articular um novo padrão de produção e de consumo com uma repartição mais equânime dos benefícios naturais e tecnológicos, respeitando a capacidade de suporte de cada ecosistema, do conjunto do sistema-Terra e vivendo em harmonia com a natureza.

Milkahil Gorbachev, presidente da Cruz Verde Internacional e um dos principais animadores da Carta da Terra, grupo o qual pertenço, advertiu recentemente: Precisamos de um novo paradigma de civilização porque o atual chegou ao seu fim e exauriu suas possibilidades. Temos que chegar a um consenso sobre novos valores.

Em 30 ou 40 anos a Terra poderá existir sem nós. A busca de um novo paradigma civilizatório é condição de nossa sobrevivência como espécie. Assim como está não podemos continuar.

Na última página de seu livro A era dos extremos diz enfaticamente Eric Hobsbawm: Nosso mundo corre o risco de explosão e de implosão. Tem de mudar. E o preço do fracasso, ou seja, a alternativa para a mudança da sociedade é a escuridão.

Importa entender que estamos enredados em quatro grandes crises: duas conjunturais – a econômica e a alimentar – e duas estruturais – a energética e a climática. Todas elas estão interligadas e a solução deve ser includente.

Não dá para se ater apenas à questão econômica, como é predominante nos debates atuais. Deve-se começar pelas crises estruturais, pois que se não forem bem encaminhadas, tornarão insustentáveis todas as demais.

As crises estruturais, portanto, são as que mais atenção merecem. A crise energética revela que a matriz baseada na energia fóssil que movimenta 80% da máquina produtiva mundial tem dias contados.

Ou inventamos energias alternativas ou entraremos em poucos anos num incomensurável colapso. A crise climática possui traços de tragédia. Não estamos indo ao encontro dela. Já estamos dentro dela. A Terra já começou a se aquecer. A roda começou a girar e nao há mais como pará-la, apenas diminuir sua velocidade ao minimizar seus efeitos catastróficos e ao adaptar-se a ela. Bilhões e bilhões de dólares devem ser investidos anualmente para estabilizar o clima entorno de 2 a 3 graus Celsius já que seu aquecimento poderá ficar entre 1,6 a 6 graus, o que poderia configurar uma devastação gigantesca da biodiversidade e o holocausto de milhões de seres humanos. De todas as formas, mesmo mitigado, este aquecimento vai produzir transtornos significativos no equilíbrio climático da Terra e provocar nos próximos anos cerca de 150-200 milhões de refugiados climáticos segundo dados fornecidos pelo atual Presidente da Assembléia Geral da ONU, Miguel d’Escoto, em seu discurso inaugural em meados de outubro de 2008. E estes dificilmente aceitarão o veredito de morte sobre suas vidas. Romperão fronteiras nacionais, desestabilizando politicamente muitas nações. Estas duas crises estruturais vão inviabilizar o projeto do capital. Ele partia do falso pressuposto de que a Terra é uma espécie de baú do qual podemos tirar recursos indefinidamente.

Hoje ficou claro que a Terra é um planeta pequeno, velho e limitado que não suporta um projeto de exploração ilimitada...

Em 1961 precisávamos de metade da Terra para atender as demandas humanas. Em 1981 empatávamos: precisávamos de uma Terra inteira. Em 1995 já ultrapassamos em 10% de sua capacidade de regeneração, mas era ainda suportável. Em 2008 passamos de 40% e a Terra está dando sinais inequívocos de que já não agüenta mais. Se mantivermos o crescimento do PIB mundial entre 2-3% ao ano, em 2050 vamos precisar de duas Terras, o que é impossível. Mas não chegaremos lá.

Resta ainda lembrar que entre 1900 quando a humanidade tinha 1,6 bilhões de habitantes e 2008 com 6,7 bilhões, o consumo aumentou 16 vezes. Se os países ricos quisessem generalizar para toda a humanidade o seu bem-estar - cálculos já foram feitos - iríamos precisar de duas Terras iguais a nossa.

A crise de 1929 dava por descontada a sustentabilidade da Terra. A nossa não pode mais contar com este fato e com a abundancia dos recursos naturais. Nenhuma solução meramente econômica da crise pode suprir este déficit da Terra.

Não considerar este dado torna a análise manca naquilo que é a determinação fundamental e a nova centralidade. Tudo isso nos convence de que a crise do capital não é crise cíclica. É crise terminal.

Em 300 anos de hegemonia praticamente mundial, esse modo de produção com sua expressão política, o liberalismo, destruiu com sua voracidade desenfreada, as bases que o sustentam: a força de trabalho, substituindo-a pela máquina e a natureza devastando-a a ponto de ela não conseguir, sozinha, se auto-regenerar. Por mais estragemas que seus ideólogos vindos da tradição marxiana, keneysiana ou outras tentem inventar saídas para este corpo moribundo, elas não serão capazes de reanimá-lo. Suas dores não são de parto de um novo ser, mas dores de um moribundo. Ele não morrerá nem hoje nem amanhã. Possui capacidade de prolongar sua agonia, mas esgotou sua virtualidade de nos oferecer um futuro discernível. Quem o está matando não somos nós, já que não nos cabe matá-lo, mas superá-lo, na boa tradição marxiana bem lembrada por Chico Oliveira em sua lúcida entrevista, mas a própria natureza e a Terra.

Repetimos: os limites do capitalismo são os limites da Terra. Já encostamos nestes limites tanto da Terra quanto do capitalismo. A continuar seremos destruídos por Gaia, pois ela, no processo evolucionário, sempre elimina aquelas espécies que de forma persistente e continuada ameaçam a todas as demais. Nós, homo sapiens e demens, nos fizemos, na dura expressão do grande biólogo E. Wilson, o Satã da Terra, quando nossa vocação era o de sermos seu cuidador, guardião e anjo bom. Para onde iremos? Nem o Papa nem o Dalai Lama, nem Barack Obama nem muito menos os economistas nos poderão apontar uma solução. Mas pelo menos podemos indicar uma direção.

Se esta estiver certa, o caminho poderá fazer curvas, subir e descer e até conhecer atalhos, esta direção nos levará a uma terra na qual os seres humanos podem ainda viver humananente e tratar com cuidado, com compaixão e com amor a Terra, Pacha Mama, Nana e nossa Grande Mãe. Esta direção, como tantos outros já o assinalaram, se assenta nestes cinco eixos: (1) um uso sustentável, responsável e solidário dos limitados recursos e serviços da natureza; (2) o valor de uso dos bens deve ter prioridade sobre seu valor de troca; (3) um controle democrático deve ser construído nas relações sociais, especialmente sobre os mercados e os capitais especulativos; (4) o ethos mínimo mundial deve nascer do intercâmbio multicultural, dando ênfase à ética do cuidado, da compaixão, da cooperação e da responsabilidade universal; (5) a espiritualidade, como expressão da singularidade humana e não como monopólio das religiões, deve ser incentivada como uma espécie de aura benfazeja que acompanha a trajetória humana, pois ancora o ser humano e a história numa dimensão para além do espaço e do tempo, conferindo sentido à nossa curta passagem por este pequeno planeta.

Devemos crer, como nos ensinam os cosmólogos contemporâneos, nas virtualidades escondidas naquela Energia de fundo da qual tudo provém, que sustenta o universo, que atua por detrás de cada ser e que subjaz a todos os eventos históricos e que permite emergências surpreendentes.

É do caos que nasce a nova ordem. Devemos fazer de tudo para que o atual caos não seja destrutivo mas criativo. Então sobrevivemos com o mesmo destino da Terra, a única casa comum que temos para morar."

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A FLORA que amanos odiar


Os psicopatas são os novos heróis do cinema e da tevê

A extrema maldade de Flora na novela A Favorita nos faz indignados e fascinados. Patrícia Pilar está dando um show, como também Glória Pires fez no passado com Maria de Fátima em Vale Tudo, que iniciou a leitura da psicopatia brasileira. Ela está em toda parte, na política principalmente, na busca louca do sucesso, na fuga do anonimato e em
sua decorrência: o crime.

Antigamente, nos romances e filmes, nos identificávamos com as vítimas; hoje, nos fascinamos com os vilões. Não torcermos mais pelos mocinhos - torcemos pelos bandidos. Por que? Bem, porque os psicopatas são o nosso futuro, a vida moderna nos levará a isso. Pensem no último Coringa, do Batman, interpretado pelo falecido Heath Ledger.

Diante dos cadáveres, da miséria, do cinismo, somos levados a endurecer o coração, endurecer os olhos, a ser cínicos em busca de um funcionamento comercial. Do contrário, seremos descartados, tirados de linha como um carro velho.

A sociedade está parindo legiões de psicopatas, muitos disfarçados de chiques ou light. Nem todo psicopata esquarteja mulheres no parque. O livro Mentes Perigosas, da psiquiatra Ana Beatriiz B. Silva, nos dá medo: a cada 25 pessoas, uma é psicopata. Podem passar a vida toda tranquilamente, prejudicando os outros, sem nunca serem descobertas.

O psicopata light, que não faz picadinho de ninguém, tem as mesmas molas que movem o esquartejador. Ele parece muito sadio e simpático. Não é nervoso nem inseguro. Tem encanto e inteligência; sem afetividade ou culpa para atrapalhar, tem uma espantosa capacidade de manipulação dos outros, pela mentira, sedução e, se precisar, pela chantagem.

Questionado ou flagrado, o psicopata sempre se acha inocente ou vítima do mundo, do qual tem de se vingar. Ele, em geral, não delira. Suas ações mais absurdas e crueis são justificadas como lógicas, naturais, já que o outro não existe. Não sente nem remorso nem vergonha do que faz (o que nos dá uma secreta inveja). Ele mente compulsivamente, muitas vezes acreditando na própria mentira, para conseguir poder. Seu fraco amor aparece apenas como posse ou controle. Não olha para dentro de si, nem aprende com a experiência, simplesmente porque acha que não tem nada a aprender.

O psicopata não deprime. Ele atua e pode fazer muito sucesso num mundo onde a alegria falsa e maníaca é obrigatória. Estes tempos de alegria obrigatória são sopa no mel para os psicopatas, os chamados psicóticos sãos como os nomeiam alguns psicanalistas hoje.

Hoje em dia é proibido sofrer. Temos de funcionar, temos de rir, de gozar, de ser belos, magros, chiques, tesudos, em suma, temos de ser uma mímica dos produtos de qualidade total. Para isso, há o Prozac, o Viagra, os uppers, os downers; senão, nos encostam como arcaicos. "A depressão não é comercial", disse-me uma bichinha chorando, um costureiro à beira do suicídio que tinha de sorrir sempre, para as freguesas, para as fotos, senão perdia a clientela e a fama.

No entanto, a depressão importa. A melancolia é fundamental para a criação e para a felicidade. Estamos erradicando uma força cultural brutal, a musa por trás de muita arte, poesia e música. Estamos aniquilando a melancolia.

Há uma nova ciência, a ciência da felicidade. Parece realmente ser uma era de perfeito contentamento, um grande mundo novo de sorte persistente, alegria sem problemas, felicidade sem penas. Mas sem um desencanto com o sentido da vida, sem um ceticismo crítico, sem a morte no pensamento, ninguém chega a uma reflexão decente.

A melancolia, longe de ser uma mera doença ou fraqueza de espírito, é quase um convite milagroso para transcender
este status quo banal e imaginar as inimagináveis possibilidades de existência. Sem melancolia, a Terra iria provavelmente se congelar num estado fixo, tão previsível como o metal. Só com a ajuda da angústia constante este mundo à beira da morte pode ser transformado, reavivado, levado ao novo.

Quando nós, com aparente felicidade, nos seguramos numa ideologia qualquer, este mundo subitamente parece entrar numa coerência estática, uma divisão rígida entre o certo e o errado. O mundo, dessa forma, torna-se desinteressante, morto.

No Brasil, com a crise das utopias e com a exposição brutal de um escândalo por dia, com a propaganda estimulando a ridícula liberdade para irrelevâncias, temos o indivíduo absolutamente sozinho. Isso leva a um narcisismo desabrido, base da psicopatia. Somos hoje sem limites morais em luta por um lugar ao sol. Ou pela fama ou por um golpe na praça. Queremos ser ricos ou famosos. A sobrevivência moderna precisa do crime, cada vez mais.

E esse comportamento está deixando de ser uma exceção. O psicopata é um prenúncio do futuro, quando todos seremos assim para sobreviver. A velha luta pela ética, pela paz, pela solidariedade está virando uma batalha vã. Esses sentimentos humanos só foram possíveis historicamente. Raros foram os momentos em que vicejaram. Os chamados comportamentos humanos estão se esvaindo na distância. O que é o humano hoje? O humano está virando apenas um lugar-comum para uma bondadezinha submissa, politicamente correta. O humano é histórico também. Talvez não haja mais lugar para esse conceito, que é mutante. Somos máquinas desejantes que nos transformamos com o tempo e a necessidade.

Antes, os psicopatas tocavam num mistério que não queríamos conhecer. Tínhamos medo deles. Hoje, temos de competir com os psicopatas, que em geral nos vencem, com sua eficiência, rapidez e falta de escrúpulos. Estamos vendo que essa antiga doença vai acabar virando uma virtude no futuro.

Ficou arcaica a idéia de compaixão e um dia seremos tocados pela graça da insensibilidade. Como os psicopatas. Temos de esfriar o coração para viver no Brasil. Por enquanto ainda falamos Que horror!, mas um dia chegaremos a um coração perfeitamente frio. Um dia seremos todos psicopatas.


Texto: Arnaldo Jabor

sábado, 10 de janeiro de 2009

10 de Janeiro - Dia muito Especial


Inteligente, paciente, generosa, lutadora, estes são os quatro predicados que vejo na minha grande amiga Hortência. Ela deve ter muitos outros, mas não preciso conhecê-los para admirá-la tanto.
Nome e qualidade de flor, veio para alegrar e embelezar mais ainda este mundo em que vivemos. Estes versos sem autoria são uma minúscula homenagem para este dia 10 de janeiro, quando você aniversaria, junto com meus desejos de muitas alegrias e muita saúde!

“Ninguém tem a família que você herdou,
os amigos que você abraçou,
a pessoa por quem se apaixonou,
as casas nas quais você morou,
a estrada em que você rodou,
os horizontes que fotografou,
as músicas que ouviu,
as que guardou no coração,
as que desejou dançar,
os presentes que ganhou,
as desavenças que ignorou,
o caráter que formou,
o ano que você passou,
o tanto que se esforçou e trabalhou.
Ninguém tem...
uma história de vida como a sua,
exatamente o que a torna diferente
e por ser diferente
faz com que tudo ao seu redor
também seja."

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A importância de perder peso


Vou ao supermercado e constato o crescimento do setor de dietéticos. Abro revistas e me deparo com as exigências de se ter um corpo esbelto. As clínicas de cirurgia plástica estão com a agenda lotada de homens e mulheres esperando sua vez para lipoaspirar, cortar, reduzir. A sociedade toda conspira a favor da magreza, e de certo modo isso é positivo, ser magro faz bem para a auto-estima e para a saúde. Mas não tenho visto ninguém estimular outro tipo de dieta igualmente necessária para o bem-estar da população. Encontro suco light, chocolate light, iogurte light, mas pessoas light são raridade.

Muita gente se preocupa em ser magro, mas não se preocupa em ser leve. Tem criatura aí pesando 48 quilos e que é um chumbo. São aqueles que vivem se queixando. Possuem complexo de perseguição, acham que o planeta inteiro está contra eles. Não se dão conta da sua arrogância, possuem certeza de que são a razão da existência do universo. Estão sempre dispostos a fazer uma piadinha maldosa, uma fofoquinha desabonadora sobre alguém. Ressentidos, puxam o tapete dos outros para se manter em pé. Não conseguem ver graça em nada, não relevam as chatices comuns do dia-a-dia, levam tudo demasiadamente a sério. São patrulhadores, censores, carregam as dores do mundo nas costas. Magrinhos, é verdade. Mas que gente pesada.

Ser minimalista todo mundo acha moderno, mas ser leve — cruzes! — parece pecado mortal. Os leves, segundo os pesados, não têm substância, não têm profundidade, não têm consistência intelectual: não são leves e, sim, levianos. Os pesados não conseguem fechar o zíper das suas roupas de tanto preconceito saltando pra fora.

Não bastasse a carga tributária, a violência, a burocracia e a corrupção, ainda temos que enfrentar pessoas rudes, sem a menor vocação para se divertir. Diversão — segundo os pesados, mais uma vez — é algo alienante e sem serventia. Eles não entendem como alguém pode extrair prazer de coisas sérias como o trabalho e a família. Não entendem como é que tem gente que consegue viver sem armar barracos e criar problemas.

Eu proponho uma campanha de saúde pública: vamos ser mais bem-humorados, mais desarmados. Podemos ser cidadãos sérios e respeitáveis e, ao mesmo tempo, leves. Basta agir com mais delicadeza, soltura, autenticidade, sem obediência cega às convenções, aos padrões, aos patrões. Um pouco mais de jogo de cintura, de criatividade, de respeito às escolhas alheias. Vamos deixar para sofrer pelo que é realmente trágico e não por aquilo que é apenas um incômodo, senão fica impraticável atravessar os dias.

Dores de amor, falta de grana e angústias existenciais são contingências da vida, mas você não precisa soterrar os outros com seus lamentos e más vibrações. Sustente seu próprio fardo e esforce-se para aliviá-lo. Emagreça onde tem que emagrecer: no espírito, no humor. E coma de tudo, se isso ajudar.
Feliz 2009!

Texto: Martha Medeiros