quinta-feira, 24 de abril de 2008


Contam que, uma vez, se reuniram todos os sentimentos, qualidades e defeitos dos homens em um lugar da terra.
Quando o ABORRECIMENTO havia reclamado pela terceira vez, a LOUCURA, como sempre tão louca, lhes propôs:
- Vamos brincar de esconde-esconde?
A INTRIGA levantou a sobrancelha, intrigada, e a CURIOSIDADE, sem poder conter-se, perguntou:
- Esconde-esconde? Como é isso?
- É um jogo. explicou a LOUCURA, em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem, e quando eu tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará meu lugar para continuar o jogo.
O ENTUSIASMO dançou seguido pela EUFORIA. A ALEGRIA deu tantos saltos que acabou por convencer a DÚVIDA e até mesmo a APATIA, que nunca se interessava por nada. Mas nem todos quiseram participar:
A VERDADE preferiu não esconder-se. - "Para que, se no final todos me encontram?" - Pensou. A SOBERBA opinou que era um jogo muito tonto e a COVARDIA preferiu não arriscar-se.
- Um, dois, três, quatro... - Começou a contar a LOUCURA.
A primeira a esconder-se foi a PRESSA, que como sempre caiu atrás da primeira pedra do caminho. A FÉ subiu ao céu e a INVEJA se escondeu atrás da sombra do TRIUNFO, que com seu próprio esforço tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta.
A GENEROSIDADE quase não conseguiu esconder-se pois, cada local que encontrava, lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos: se era um lago cristalino, ideal para a BELEZA; se era a copa de uma árvore, perfeito para a TIMIDEZ; se era o vôo de uma borboleta, o melhor para a VOLÚPIA; se era uma rajada de vento, magnífico para a LIBERDADE. E assim, acabou escondendo-se em um raio de sol.
O EGOÍSMO, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o início. Ventilado, cômodo, mas apenas para ele. A MENTIRA escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade, escondeu-se atrás do arco-íris) e a PAIXÃO e o DESEJO, no centro dos vulcões. O ESQUECIMENTO, não me recordo onde se escondeu, mas isso não é o mais importante.
Quando a LOUCURA estava lá pelo 999.998, o AMOR ainda não havia encontrado um lugar para esconder-se, pois todos já estavam ocupados, até que encontrou uma rosa e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre suas flores.
- Um milhão! - terminou de contar a LOUCURA, e começou a busca.
A primeira a aparecer foi a PRESSA, apenas a três passos de uma pedra. Depois, escutou-se a FÉ discutindo com DEUS, no céu, sobre zoologia. Sentiu vibrar a PAIXÃO e o DESEJO nos vulcões. Em um descuido, encontrou a INVEJA e claro, pode deduzir onde estava o TRIUNFO.
O EGOÍSMO, não teve nem que procurá-lo. Ele sozinho saiu disparado de seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas. De tanto caminhar, a LOUCURA sentiu sede e, ao aproximar-se de um lago, descobriu a BELEZA. A DÚVIDA foi mais fácil ainda, pois a encontrou sentada sobre uma cerca sem decidir de que lado esconder-se.
E assim foi encontrando a todos: O TALENTO entre a erva fresca; a ANGÚSTIA em uma cova escura; a MENTIRA atrás do arco-íris (mentira, estava no fundo do oceano) e até o ESQUECIMENTO, que já havia esquecido que estava brincando de esconde-esconde.
Apenas o AMOR não aparecia em nenhum local. A LOUCURA procurou atrás de cada árvore, em baixo de cada rocha do planeta e em cima das montanhas.
Quando estava a ponto de dar-se por vencida, encontrou um roseiral. Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando, no mesmo instante, escutou-se um doloroso grito. Os espinhos tinham ferido o AMOR nos olhos. A LOUCURA não sabia o que fazer para desculpar-se. Chorou, rezou, implorou, pediu e até prometeu ser seu guia.
Desde então, desde que pela primeira vez se brincou de esconde-esconde na terra,
O AMOR é cego e a LOUCURA sempre o acompanha...


Autor Desconhecido

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Desconstruções


Quando a gente conhece uma pessoa,
construímos uma imagem dela.
Esta imagem tem a ver com o que ela é de verdade,
tem a ver com as nossas expectativas
e tem muito a ver com o que ela "vende" de si mesma.
É pelo resultado disso tudo que nos apaixonamos.
Se esta pessoa for bem parecida com a imagem que projetou em nós,
desfazer-se deste amor, mais tarde, não será tão penoso.
Restará a saudade, talvez uma pequena mágoa,
mas nada que resista por muito tempo.
No final, sobreviverão as boas lembranças.
Mas se esta pessoa "inventou" um personagem
e você caiu na arapuca, aí, somado à dor da separação,
virá um processo mais lento e sofrido:
a de desconstrução
daquela pessoa que você achou que era real.
Desconstruindo Flávia, desconstruindo Gilson,
desconstruindo Marcelo.
Milhares de pessoas estão vivendo seus dias aparentemente numa boa,
mas por dentro estão desconstruindo ilusões,
tudo porque se apaixonaram por uma fraude,
não por alguém autêntico.
Ok, é natural que, numa aproximação,
a gente "venda" mais nossas qualidades que defeitos.
Ninguém vai iniciar uma história dizendo:
muito prazer, eu sou arrogante, preguiçoso e cleptomaníaco.
Nada disso, é a hora de fazer charme.
Mas isso é no começo.
Uma vez o romance engatado, aí as defesas são postas de lado
e a gente mostra quem realmente é,
nossas gracinhas e nossas imperfeições.
Isso se formos honestos.
Os desonestos do amor são aqueles que fabricam idéias e atitudes,
até que um dia cansam da brincadeira,
deixam cair a máscara e o outro fica ali, atônito.
Quem se apaixonou por um falsário, tem que desconstruí-lo para se desapaixonar.
É um sufoco.
Exige que você reconheça que foi seduzido
por uma fantasia, que você é capaz de se deixar confundir,
que o seu desejo de amar é mais forte do que sua astúcia.
Significa encarar que alguém por quem você dedicou um sentimento nobre e verdadeiro
não chegou a existir,
tudo não passou de uma representação – e olha,
talvez até não tenha sido por mal, pode ser que esta pessoa
nem conheça a si mesma, por isso ela se inventa.
A gente resiste muito a aceitar que alguém que amamos não é,
e nem nunca foi, especial.
Que sorte quando a gente sabe com quem está lidando:
mesmo que venha a desamá-lo um dia,
tudo o que foi construído se manterá de pé.

Martha Medeiros

Eternizando a Juventude


A cultura atual, que supervaloriza a juventude, deixa marcar indeléveis à auto-estima dos que não conseguem se manter atualizados nas últimas novidades do mercado de cosméticos, cirurgias de redução disso ou daquilo, fitness e hormônios!
Considerando-se que os modismos trazem grandes lucros aos mais atentos e espertos, e que a indústria farmacêutica só perde em rendimentos para a bélica, ressaltamos trechos do artigo da Dra. Maria Cristina Franco Ferraz, no site: http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/2969,1.shl.

..."Nossos prazeres, sucessos, fracassos, incômodos e tensões são crescentemente atribuídos a hormônios que atuam no cérebro, tais como os chamados hormônios do estresse, a endorfina e a serotonina.
Aos poucos, estes termos científicos vão penetrando no vocabulário mais cotidiano. Não é incomum ouvirmos dizer, por exemplo, que malhar libera endorfina, provocando uma agradável sensação de prazer e de bem-estar. Essa nova ênfase atinge, atualmente, tanto homens quanto mulheres, mas é sobre as mulheres que ela tende a recair de modo mais evidente e disseminado.
Isso não ocorre por acaso. Em nossa cultura, a mulher sempre foi mais marcada como gênero e especialmente caracterizada por sua curiosa anatomia. No século XXI, a experiência subjetiva da mulher passa a ser relacionada (por ela mesma, inclusive) cada vez mais à modulação de seus níveis hormonais. Agora, ao que tudo indica, vai saindo de cena a equação mulher-útero, que marcou a modernidade, para dar lugar à associação contemporânea mulher-hormônio.
No livro “Memória” , o neurocientista Iván Izquierdo explica que a oxitocina, principal hormônio ligado ao parto e às contrações uterinas, afeta neurônios da amígdala, provocando certo efeito amnésico. Segundo alguns neurocientistas, esse hormônio que atua sobre o cérebro seria responsável pelo próprio esquecimento da dor do parto. Ou seja: não seria a rica experiência da maternidade (ou qualquer outro fator de cunho existencial) que faria esquecer a dor do parto, mas a ação da oxitocina sobre os neurônios."
..."No caso específico da mulher, a tendência a reduzir a experiência aos hormônios parece apontar para uma nova maneira de se entender a feminilidade, que reforça certos valores e termina por estabelecer novos modos de se auto-descrever. Cabe então pensar algumas implicações filosóficas, éticas e culturais dessa visada.
Do século XVIII até mais da metade do século XX, a vida da mulher estava vinculada principalmente às funções de seu útero. Como ressaltou Michel Foucault
em sua face positiva, destacava-se a figura socialmente ajustada da mãe.
O reverso negativo e patológico da mulher-mãe se evidenciava na figura da mulher “nervosa”, configurada na virada do século XIX ao XX como “histérica”. Não se pode esquecer a importância da noção de histeria para a constituição do próprio campo da psicanálise. Cabe também lembrar que o termo “histeria” é, em grego, etimologicamente ligado a útero. É essa associação predominante mulher-útero, historicamente determinada, que parece ter se alterado a partir da segunda metade do século passado.
Marcando essa mudança, nos anos 60, Robert Wilson divulgou e promoveu intensamente a terapia de reposição hormonal para todas as mulheres, “da menopausa ao túmulo”. O título de seu best-seller de 1966, “Feminine Forever” (Para sempre feminina), lembra curiosamente certos lemas publicitários para a venda de produtos cosméticos.
A terapia de reposição hormonal, a partir de então maciçamente difundida, apóia-se no pressuposto de que o declínio da produção de estrogêneo na menopausa acarreta um progressivo processo de desfeminização.
Feminilidade é tendencialmente reduzida a um efeito de processos hormonais, passando a ser radicalmente anexada ao campo da medicina. Além disso, a menopausa deixa de ser encarada como uma etapa natural no processo de envelhecimento do corpo da mulher. Associa-se à doença, por meio da expressiva noção de “déficit”.
Aliás, o próprio envelhecimento já tangencia o patológico, o que aponta para um dos temores que mais assombram nossa cultura: o horror aos efeitos devastadores da passagem do tempo sobre nossos corpos e cérebros, que devem se manter sempre “fit”, saudáveis, ativos e produtivos (termos praticamente equivalentes).
Obviamente, essa equação mulher-hormônio representa uma grande oportunidade para negócios altamente lucrativos, tanto no campo da medicina mais ortodoxa (terapia de reposição hormonal, por exemplo) quanto nas vias mais alternativas (uso de substâncias fitoterápicas, suplementos vitamínicos etc.).
Como a diminuição hormonal na menopausa atinge mulheres de todas as raças, camadas sociais e continentes, a totalidade das mulheres de meia-idade se transforma em um vasto grupo potencial de tratamento médico ou alternativo. Aquilo que a natureza deixa de produzir como por uma espécie de equívoco se transforma em um imenso nicho de mercado para a poderosa indústria farmacêutica.
A noção de “déficit”, significativamente extraída do campo da economia, sugere que o estrogêneo deveria continuar a ser produzido pelo corpo da mulher até o final de sua vida. Nesse sentido, ter diminuída sua produção representa uma falha a ser minimizada. Notícia bastante alarmante, em uma época em que a saúde se espetaculariza na superfície dos corpos e se espelha na imagem corporal, afetando a tão proclamada auto-estima.
O declínio do estrogêneo tende então a ser vivido de modo muito mais angustiado, alimentando a demanda por soluções medicamentosas ou alternativas, uma vez que afeta a própria feminilidade, remetida tão-somente ao corpo biológico e à imagem de si.
A terapia de reposição hormonal é uma das expressões da lógica do risco que impera em nossa cultura: nesse caso, riscos de osteoporose e de futuras doenças cardiovasculares. Esses riscos de doenças futuras teriam de ser prevenidos desde sempre, ao longo de toda a vida. Idealmente, mesmo antes do nascimento. Essa mentalidade não se restringe ao caso da menopausa, mas se estende às diversas áreas da vida contemporânea. A ênfase na noção de risco também move, por exemplo, projetos de pesquisa genética.
Como acaba de ser divulgado, o recente Projeto Genoma 1000 pretende mapear e catalogar o DNA de mil indivíduos de todas as raças e continentes. Esses catálogos servirão para rastrear e identificar predisposições para certas anomalias e doenças. Ou seja: estar doente é cada vez mais antecipado, solicitando vigilância e atenção permanentes, ao longo de toda a vida, estendida à etapa intra-uterina.
Na lógica do risco, estamos todos virtualmente doentes (e deficitários), do útero ao túmulo. Somos instados a dedicar nosso tempo prevenindo o que certamente está por vir -a menos que não cheguemos a viver até lá. Um dos efeitos dessa crença é, obviamente, a crescente medicalização do corpo tanto de homens quanto de mulheres.
A pesquisadora australiana Jennifer Harding observa que embora diversas feministas tenham polemizado sobre os possíveis malefícios (e riscos) da controversa terapia de reposição hormonal e proposto alternativas não medicamentosas (mudança de estilo de vida, caminhadas, “fitness”), elas não deixaram de endossar os pressupostos implicados na terapia de reposição hormonal.
Eis, em síntese, alguns deles: a lógica do risco; a desvalorização do envelhecimento, cada vez mais associado a um estado meramente deficitário, a uma dependência onerosa em todos os sentidos (material e afetivo); a perspectiva de manutenção a todo preço de uma saúde intimamente vinculada à jovialidade e à produtividade; a visão da menopausa como doença ou risco de doenças futuras e, sobretudo, a equação feminilidade/hormônio.
Um dos valores embutidos nessa equação diz respeito à relação entre feminilidade e imagem do corpo jovem, saudável, preferencialmente pouco adiposo. A lógica da produtividade, da performance bem-sucedida e do curtíssimo prazo, própria às empresas, parece se estender a todos os domínios da vida.
Na cultura da performance e da descartabilidade, passa a ser praticamente impossível atribuir valor ao enriquecimento da experiência humana ao longo de uma vida. Nesse contexto, o envelhecimento só pode ser vivido como deficitário e angustiante. Por outro lado, a debilitação do corpo e seu eventual adoecimento tendem a ser experimentados como pesados ônus a serem pagos pelos indivíduos, pelas famílias e pela sociedade.
Essa cultura da prevenção e da seguridade contra riscos embute a idéia de que temos o dever de nos precavermos contra doenças, como se pudéssemos controlar através de nossas escolhas e comportamentos todos os seus vetores. Se formos bons cidadãos, sujeitos moralmente decentes, devemos nos responsabilizar não apenas pelos hábitos que poderiam levar à doença, mas também pela preocupação permanente com a produção da própria saúde. Quem não cuida bem de si, bom sujeito não é: eis o lema implícito em muitas de nossas práticas.
Ora, no caso das mulheres com poder aquisitivo suficiente para “cuidarem de si”, esse cuidado implica manter-se saudavelmente ativa e ser feminina “forever”. O problema, nesse caso, se agrava, pois como a menopausa ocorre relativamente cedo em uma vida que tende a se estender muito além da meia-idade, os cuidados terão de ser intensificados, e a vigilância, reforçada.
A equação feminildade/hormônio alcança igualmente outras etapas de vida da mulher. Esse é o caso das populares TPMs, levadas até mesmo em conta em julgamentos de crimes, na condição de circunstâncias atenuantes."
..."De nervosa e histérica, a mulher passa a ser mero efeito (sempre instável) de seus hormônios. Evidentemente, essa equação tende a desinvestir o sujeito de sua potência transformadora de mundo e de si. Aliás, o tema do cuidado de si, eticamente tratado por Michel Foucault, foi parcialmente apropriado (à revelia de sua filosofia) pela cultura da performance e da imagem de si. Nessa cultura, o que parece estar em questão é sentir-se bem a todo custo, regulando o corpo e seus hormônios pelo ritmo e pelo compasso adequados a uma gestão otimizada da vida.
Como a curiosa noção de “auto-estima”, cada vez mais ligada à saúde e ao bem-estar, está relacionada à imagem de si, a menopausa se apresenta como um fenômeno orgânico que ameaça a própria felicidade das mulheres."

Tantas expectativas quanto à preservar a mulher/ativa, podem resultar nas desorganizações familiares, fazendo-nos esquecer da mulher/mãe, a mulher cuidadora que não tem mais tempo suficiente para proteger sua prole.

domingo, 13 de abril de 2008

Nunca


Nunca se julgue velho demais para comemorar aniversários nem para fazer coisas que você sempre fez.
Nunca desista dos seus sonhos só porque imagina que eles nunca se tornarão realidade.

Nunca esqueça o som de uma boa gargalhada, ou do amor visto nos olhos de alguém.

Nunca troque prazeres por más lembranças de coisas que já se perderam no tempo.

Nunca jogue fora o seu entusiasmo pela vida, crendo que está velho demais para isso, pois não é o que você sente, mas sim o que lhe disseram.

Há um profundo vale dentro de nós onde a primavera é eterna, onde não há sons de tristeza, e onde os pássaros sempre cantam.
Mesmo que os seus passos já não sejam tão largos quanto os passos de um adolescente, mesmo que lhe pareçam muito diferentes as coisas que antes você enxergava de outra forma, não deixe a soma das décadas transformá-lo num ser amargo e sem esperanças.

Com a idade cresce nossa sabedoria, e ela é uma bênção para todos nós.

Exiba os anos vividos como quem carrega um estandarte, girando-o brilhantemente em direção do sol.

Se piadistas lhe disserem que sua Vida está acabando, diga-lhes sorrindo sabiamente: ela está apenas começando!
(Desconheço o Autor)

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Miss Imperfeita


"Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com eles, estudo com eles, telefono para minha mãe todas as noites, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e ainda faço escova toda semana - e as unhas! E, entre uma coisa e outra, leio livros.
Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic. Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.
Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.
Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros. Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.
Você não é Nossa Senhora. Você é, humildemente, uma mulher. E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável.
É ter tempo. Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempo para dançar sozinha na sala. Tempo para bisbilhotar uma loja de discos. Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cinco dias! Tempo para uma massagem. Tempo para ver a novela. Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza. Tempo para fazer um trabalho voluntário. Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto. Tempo para conhecer outras pessoas. Voltar a estudar. Para engravidar. Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado. Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.
Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal. Existir, a que será que se destina? Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.
A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem. Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si. Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!
Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente. Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.
Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.
Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores. E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante".

Texto da Martha Medeiros publicado na Revista do O Globo

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Ação



Quantos concorrentes existem em sua vida? Quantas coisas concorrem para que você pare aquilo que está fazendo? As dúvidas paralisam você? O caos? Os riscos? O medo?Se parar para pensar (e neste caso, sugiro que não pare), você notará que há milhares de razões para que as preocupações acabem com o seu dia e paralisem sua capacidade de agir. E são todas, certamente, preocupações reais.
Desde preocupar-se com o dinheiro, ou a falta dele, até os problemas de insegurança, riscos para a saúde, insetos transmissores de doenças, alagamentos causados pela chuva, trânsito, aquecimento global, política... e mais alguns milhares de itens.
Mas, se você começar a elencar todos os problemas reais e potenciais da vida, pode concluir que seria melhor ter ficado na barriga da mamãe, achando que o mundo é muito complicado.
Por outro lado, a hipótese de recusar-se a nascer não funciona, porque você já nasceu. Você já superou entre 20 a 800 milhões de adversários quando apenas o espermatozóide que transportava seu DNA - uma parte dele- fecundou o óvulo que acabou por trazer você ao mundo. Note o que eu disse: você já superou entre 20 a 800 milhões de adversários. E você fez isso em poucos minutos, antes mesmo de nascer.
Portanto, você já nasceu vencendo!Se você tivesse parado para pensar, apenas por um milionésimo de segundo, alguma outra pessoa estaria no seu lugar lendo este texto. Sei que é um exemplo batido, mas parece que muita gente se esquece disso. Para vencer aquele primeiro obstáculo, você agiu imediatamente, correndo contra o tempo, lado a lado com 20 a 800 milhões de concorrentes.
Este número, e a improbabilidade aparente existente nele, sempre me assombram. A parte curiosa é a seguinte: você jamais terá tantos concorrentes de novo, em toda a sua vida! Nunca. Pense bem: quantos concorrentes há para sua empresa? Para o seu cargo? Para a pessoa que você ama? Para a sua vaga naquele cargo? Para qualquer coisa?Vejo pessoas desesperadas porque têm dois concorrentes "ferozes". Eu disse dois.
E o que a maioria das pessoas normalmente faz quando ficam preocupadas com os concorrentes? Elas param. Congelados pelo medo, nosso destino tem direção certa: o desperdício das nossas vitórias anteriores.
A chave é sempre agir.
Agir com direção. Agir com empenho. Agir com vontade de vencer. É isso o que separou você dos milhões de concorrentes que já foram vencidos antes. É isso que vai separar você de qualquer concorrente, agora ou no futuro. Seus concorrentes, concorrentes da sua empresa, do seu casamento, do seu trabalho ou do que quer que seja.
Há pessoas que afirmam que, se você agir poderá superar qualquer obstáculo. Não é assim que funciona o mundo. Há obstáculos insuperáveis. Mas são raros, comparados aos que enfrentamos todos os dias. A maioria dos obstáculos se tornam insuperáveis porque desistimos e vence-los. Nós é que lhes damos a força - uma força que eles não têm. E, quando passamos minutos, horas e dias preocupados, acabamos como estivéssemos em uma cadeira de balanço, indo de um lado para o outro, mas sem sair do lugar. É por isso que a frase desta semana é: preocupar-se é como ir de um lado para outro em uma cadeira de balanço; parece que você está fazendo algo, mas isso não vai levar você a lugar algum.Você vai continuar a preocupar-se e ficar preso ao mesmo lugar ou vai fazer exatamente a mesma coisa que trouxe você para este mundo com grande sucesso? Agir.
Se você agir, não há garantia de que as coisas mudem. Mas, para que as coisas mudem, você tem que agir.
Agir é seu próximo passo. Não perca nem mais um minuto. Aja agora. Imediatamente. Já.

Texto: Aldo Novak, autor do livro O Segredo Para Realizar Seus Sonhos, da editora Ediouro (http://www.OSegredoParaSeusSonhos.com.br/ )

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Amigos loucos e sérios


Meus amigos são todos assim:
metade loucura, outra metade santidade.
Escolho-os não pela pele,
mas pela pupila,
que tem que ter brilho questionador
e tonalidade inquietante.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta,
quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias
e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso,
só sendo louco.
Louco que senta e espera a chegada da lua cheia.
Quero-os santos,
para que não duvidem das diferenças
e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela cara lavada
e pela alma exposta.
Não quero só o ombro ou o colo,
quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto,
não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim:
metade bobeira,
metade seriedade.
Não quero risos previsíveis,
nem choros piedosos.
Pena, não tenho nem de mim mesmo,
e risada, só ofereço ao acaso.
Quero amigos sérios,
daqueles que fazem da realidade
sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos,
nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam
o valor do vento no rosto,
e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou,
pois vendo-os
loucos e santos,
bobos e sérios,
crianças e velhos,
nunca me esquecerei de que a normalidade
é uma ilusão imbecil e estéril.


Marcos Lara Resende
"Amigos para sempre"