terça-feira, 28 de abril de 2009

Susan Boyle

Impossível não se emocionar.
Susan Boyle, uma desempregada de 47 anos que vive na Inglaterra, foi tentar realizar o sonho de ser cantora no show de TV "Britain´s Got Talent" - a versão inglesa dos programas "American Idol" e "Ídolos".


Antes de se apresentar, a mulher - que foge aos padrões de beleza e mocidade vistos no show - enfrentou zombarias do público e do júri - entre eles, o apresentador Simon Cowell, o jurado mais mordaz do "American Idol".

A candidata escolheu a música "I dream a dream", do musical "Os Miseráveis" e deixou a platéia boquiaberta com a sua bela voz.

Sua apresentação, divulgada na internet, já foi vista por mais de 4 milhões de pessoas pelo mundo. Confira no vídeo abaixo.

Doidas e Santas

Es"Estou no começo do meu desespero e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa". 

São versos de Adélia Prado. Mas vamos lá. Prá começo de conversa, não acredito que haja uma única mulher no mundo que seja santa. Os marmanjos devem estar de cabelo em pé: como assim, e a minha mãe? 
Nem ela, caríssimos, nem ela.
Existe mulher cansada, que é outra coisa. Ela deu tanto azar em suas relações que desanimou. Ela ficou tão sem dinheiro de uns tempos pra cá que deixou de ter vaidade. Ela perdeu tanto a fé em dias melhores que passou a se contentar com dias medíocres. Guardou sua loucura em alguma gaveta e nem lembra mais.
Santa mesmo, só Nossa Senhora, mas cá entre nós, não é uma doideira o modo como ela engravidou? (não se escandalize, não me mande e-mails, estou brin-can-do).
Toda mulher é doida. Impossível não ser. A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar nosso poder de sedução para encontrar "the big one", aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais. Uma tarefa que dá para ocupar uma vida, não é mesmo?
Mas além disso temos que ser independentes, bonitas, ter filhos e fingir de vez em quando que somos santas, ajuizadas, responsáveis, e que nunca, mas nunca pensaremos em jogar tudo pro alto e embarcar num navio-pirata comandado pelo Johnny Depp, ou então virar uma cafetina, sei lá, diga aí uma fantasia secreta, sua imaginação deve ser melhor que a minha...
Eu só conheço mulher louca. Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante. Pois então. Também é louca. E fascina a todos.
Todas as mulheres estão dispostas a abrir a janela, não importa a idade que tenham. Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a Última Gota.Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora.
E santa, fica combinado, não existe. Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseje mais nada?
Você vai concordar comigo...

Texto: Martha Medeiros
Inagem: óleo sobre tela de Gustav Klimt, "As três idades da Mulher", 1905


quinta-feira, 23 de abril de 2009

Dentro e Fora

POR FORA
TENHO TANTOS ANOS
QUE VOCÊ NEM ACREDITA
POR DENTRO,
DOZE OU MENOS,
E ME ACHO MAIS BONITA .

POR FORA ÓCULOS,
ALGUMAS RUGAS,
GORDURINHAS,PRATA
NOS CABELOS TINTOS.

POR DENTRO
SOU DOURADA,
ALMA IMACULADA,
CORPO DE MODELO .
POR FORA,
EM ALUVIÕES,
BATEM PAIXÕES
CONTRA O PEITO.
PAIXÕES POR VERSOS,
PINTURAS,
FILOSOFIA
E AMIGOS, SEM
DESPEITO .

POR DENTRO,
SEI ME CUIDAR.
VIVO A BRINCAR
MEIO SEM JEITO,
NÃO ME DERROTA A TRISTEZA
NÃO ME OPRIME A SAUDADE
NÃO ME DEMORO PADECENTE.

E É POR VIVER CONTENTE ,
QUE CONCLUO SEM DEMORA.
É A MENINA QUE VIVE POR DENTRO,
QUE ALEGRA
A MULHER DE FORA .....


Autor do poema: Luan Lessan
Imagem: da Internet

terça-feira, 21 de abril de 2009


Neste 21 de abril, feriado, dia de Tiradentes, estamos diante de um homem que sonhou liberdade. "Libertas quae sera tamen". "Liberdade ainda que tarde".

Então eu penso na liberdade como um dos quatro pilares sobre os quais assenta o ser humano, tal como foi idealizado e criado por Deus: sabedoria, para criar e discernir; liberdade, para escolher; poder, para realizar; felicidade, como estado de ser.

Liberdade. Palavra gravada na essência humana. É você, uma pessoa livre? Ou se vê amarrada por pesadelos do passado, mágoas e ressentimentos; fracassos, que não saem da cabeça; amores desfeitos, que você não consegue emancipá-los?

A principal liberdade é a que lhe abre as portas da vida mental e emocional. Adianta muito você ter os portões da sua casa abertos, quando vive na prisão de si mesmo? Talvez a pior prisão seja as drogas, além de ser uma idiotice sem tamanho; pois pretende alcançar a felicidade e a alegria de viver e a liberdade de pensar, enfiando fogo no cérebro. Libertas quae sera tamen. Seja livre, livre para ser feliz, empunhar a bandeira dos seus sonhos e poder amanhecer cada dia sorrindo para belas expectativas.


Autor: Lauro Trevisan
Imagem: Ilustração do casal Robert e Shana ParkeHarrison

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Gente Fina

Gente fina, é aquela que é tão especial, que a gente nem percebe, se é gorda, magra, velha, moça, loira, morena, alta ou baixa.

Ela é gente fina, ou seja, está acima, de qualquer classificação.
Todos a querem por perto.
Tem um astral leve, mas sabe aprofundar as questões, quando necessário.É simpática, mas não bobalhona.

É uma pessoa direita, mas não escravizada pelos certos e errados:sabe transgredir, sem agredir.

Gente fina é aquela que é generosa, mas não banana.
Te ajuda, mas, permite que você cresça sozinho.

Gente fina, diz mais sim do que não, e faz isso naturalmente, não é para agradar.

Gente fina, se sente confortável em qualquer ambiente:
num boteco de beira de estrada, e num castelo no interior da Escócia.

Gente fina não julga ninguém - tem opinião, apenas.

"Um novo começo de era, com gente fina, elegante e sincera".
O que mais se pode querer?

Gente fina, não esnoba, não humilha, não trapaceia, não compete e, como o próprio nome diz, não engrossa.
Não veio ao mundo, pra colocar areia, no projeto dos outros.
Ela não pesa, mesmo sendo gorda, e não é leviana, mesmo sendo magra.

Gente fina, é que tinha que virar tendência.
Porque, colocando na balança, é quem faz toda a diferença.


Desconheço a autoria, mas deve ser gente muito fina...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Oração do Matuto


Ói Deus,
Nóis tá sempre pedindo as coisas pro Sinhô.
Nóis pede dinhero,
Nóis pede trabaio
Nóis pede pra chovê
E se chove demais
Nóis pede pra pará
Mode a coiêta num afetá.

Nóis pede amô,
Nóis pede pra casá
Pede casa pra morá
Nóis pede saúde
Nóis pede proteção
Nóis pede paiz,
Nóis pede pra dislindá os nó
Quando as coisa cumprica
Mode a vida corrê mió.

Quano a coisa aperta nóis reza
Pedindo tudo que farta
É uma pedição sem fim
E quano as coisa dá certo,
Nóis vai na igreja mais perto
E no pé de argum santo
Que seja de devoção
Nóis deixa sempre uns merréis
E lá no cofre da frente
Nóis coloca mais uns tostão.

Mais hoje Meu Sinhô
Bateu uma coisa isquisita
E eu me puis a matutá
Nóis pede, pede e pede
Mais nóis nunca pregunta
Comé que o Sinhô tá
Se tá triste ou tá contente
Se percisa darguma coisa
Que a gente possa ajudá
E por esse esquecimentp
O sinhô tem que nos adiscurpá.

Ói Deus, nóis sempre pensa
Que o Sinhô num percisa de nada
Mas tarvez num seja assim
Tarvez o Sinhô percisa de mim
Sim, o Sinhô percisa, sim
Percisa da minha bondade
Percisa da minha alegria
Percisa da minha caridade
No trato c’os meus irmão.

Nóis semo seu espêio
Nóis semo a Sua Criação
Nóis num pode fazê feio
Nem ficá fazendo rodeio
Nem desapontá o Sinhô
Nem amargá o seu sonho
Que foi um sonho de amô
Quando essa terra todinha criô.

Ói Deus, eu prometo
Vo rezá de ôtro jeito
Vo pará com a pedição
E trocá milagre por tostão
Tarvez eu inté peça uma graça
Mas antes vo vê direitinho
O que é que andei fazendo de bão.
E se nada de bão eu encontrá
Muito vo me envergonhá
E ainda vo pedi perdão.


Texto de Fátima Irene Pinto

sábado, 11 de abril de 2009

Mensagem de Pascoa


Quando eu era criança não entendia muito bem a
Páscoa. Só adorava procurar os ovinhos de
chocolate que o coelhinho escondia.

Mas, o que
tem a ver coelho com ovos, seus símbolos, com a
ressurreição de Jesus ou a fuga dos hebreus do
Egito comandada por Moisés?

Agora sei qual a
relação de tudo isto. Os ovos são o símbolo do
nascimento.

Ali dentro, uma vida por vir ao mundo.
É o eterno milagre da vida que renasce todos os
dias. O coelho é o animal que se reproduz com uma
velocidade estonteante, é uma ode à família, uma
declaração de amor que a natureza faz todos dias.

Renascer é nascer, somos nós mesmos que
renascemos nos nossos filhos, é a vida que se
pereniza na prole. A fuga dos hebreus é o fim da
escravidão de uma povo. A escravidão equivale à
morte, escravizar equivale a tirar a vontade e a
alma de alguém, equivale a tirar sua vida.

Se libertar da escravidão é viver de novo, é
renascer, é estar sempre começando tudo de novo.
Por fim, Jesus é a ressurreição. Quer prova mais
clara do que digo? Este eterno milagre que nos
encanta é o milagre da vida que a Páscoa nos
relembra.

A Páscoa é a ressurreição das nossas
almas. Este é o dia de renascer, começar tudo de
novo. De nos libertamos do mal que corrompeu
nossas almas e nos recobrirmos com o véu da pureza
da alma que tivemos um dia.

Abandonar tudo o que é
velho e antigo e olhar pra frente com coragem. Nos
dedicarmos à vida como quem sorve o sumo de um fruto
saboroso. Hoje é dia de renascer.

Feliz Páscoa para todos.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Reflexão sobre a Páscoa


Que nesta Páscoa,

tempo de reflexão e transformação,

brotem infinitas idéias e sonhos

dentre a doçura do chocolate.



Que cada idéia, cada sonho,

se concretize como um pequeno milagre,

desvelando palavras justas

e atitudes saudáveis.



Que o reflexo de novas

e brilhantes imagens

no espelho de nossas vidas,

seja uma conseqüência natural

desses pequenos milagres.


FELIZ PÁSCOA PARA TODOS!


Por: Heleida Nobrega, assistente social, especialista em atendimento a portadores de Hanseniase.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Chapeuzinho Vermelho


Os americanos são uma gente divertida. Lá tem sempre uma coisa na moda, a que eles dão o nome de fad. Desses fads um dos mais persistentes tem sido a chamada PC language – politically correct language, linguagem politicamente correta. O que é isso? Há jeitos de falar e jeitos errados de falar. Jeito certo de falar é aquele que está de acordo com a ideologia. Jeito errado de falar é aquele que não está de acordo com a ideologia – heresias. As heresias na fala não podem ser toleradas. Têm de ser eliminadas. A Inquisição foi um exercício de PC language. Quem falasse linguagem diferente daquela que a Igreja havia definido como correta ia para a fogueira. O Generalíssimo Franco também fez uso da PC language. A palavra “seio” foi proibida, como erótica. O erótico é herético... Poeta que usasse a palavra “seio” num poema corria o risco de ir para o garrote vil. A PC language americana proíbe que se use a palavra “ele” para se referir a Deus. Isso é machismo! Então Deus é homem? A PC language proíbe que se contem piadas que façam gozação e humilhem certos grupos sociais como gays, negros, mulheres. Eu acho que está muito certo. Mas logo aparecem os ultraortodoxos. Os ultraortodoxos se põem logo a caçar bruxas e a policiar a fala. Falar é muito perigoso... Uma vez, fazendo uma fala nos USA, usei a expressão “to be impregnated” — ser engravidado — num sentido metafórico. Pois uma senhora, do auditório, interferiu prontamente em nome da PC language, dizendo que eu estava usando “sexist language”...

Encontrei numa livraria de aeroporto um livro de estórias infantis reescritas segundo a PC language. Claro, o escritor estava fazendo gozação. Aí me deu um impulso de reescrever a estória do Chapeuzinho Vermelho para os dias de hoje, seguindo as linhas da PC language, mesmo porque não há criança que acredite na estória como foi escrita.“

Era uma vez uma jovem adolescente a quem todos conheciam pelo apelido de Rúbia. Rúbia é uma palavra derivada do latim, rubeus, que quer dizer vermelho, ruivo. Rúbia era ruiva. Ruiva porque tingira o seu cabelo castanho que ela considerava vulgar. Ela pensava que uma ruiva teria mais chances de chamar a atenção de um empresário de modelos que uma morena. Morenas há muitas. O vermelho dos seus cabelos era confirmado pelo seu temperamento: ela era fogo e enrubescia quando ficava brava.[Nota 1: Se, nessa estória, eu lhe desse o nome de Chapeuzinho Vermelho ninguém acreditaria. As adolescentes de hoje não andam por aí usando chapeuzinhos vermelhos...]

Rúbia morava com sua mãe numa linda mansão no condomínio "Omegaville". Pois numa noite, por volta das 10 horas, sua mãe lhe disse: "Rubinha querida, quero que você me faça um favor..." Rúbia pensou: "Lá vem a mãe de novo". E gritou: "De jeito nenhum. Estou vendo televisão...". "Mas eu ia até deixar você dirigir o meu BMW...", disse a mãe. Rúbia se levantou de um pulo. Para guiar o BMW ela era capaz de fazer qualquer coisa. "Que é que você quer que eu faça, mamãezinha querida?", ela disse. "Quero que você vá levar uma cesta básica para sua vovozinha, lá no Parque Oziel. Você sabe: andar de BMW, depois das 10 da noite, no Parque Oziel é perigoso. Os seqüestradores estão à espreita..." [Nota 2: a estória original contém dois problemas, relativos ao caráter e às intenções da mãe. Primeiro: mandar uma menina pequena, sozinha, pela floresta, sabendo que havia um lobo solto — ou a mãe era um tola irresponsável ou ela estava com impulsos assassinos em relação à filha, desejando que o lobo a comesse. O segundo problema: viviam sozinhas a mãe e a filha; não há referências a um pai ou marido. Então, qual a razão para que a avó morasse do outro lado da floresta? Não seria mais prático que elas vivessem juntas? Chapeuzinho não teria que enfrentar um lobo para que a vovozinha comesse queijos, bolos e ovos...]

Rúbia já estava saindo da garagem com o BMW quando sua mãe lhe gritou: "A cesta básica! Você está se esquecendo da cesta básica!" Com a cesta básica no BMW Rúbia foi para a casa da vovozinha, no Parque Oziel. Foi quando o inesperado aconteceu. Um pneu furou. Até mesmo pneus de BMWs furam. Rúbia se sentiu perdida. Com medo, não. Ela não tinha medo. O problema era sujar as mãos para trocar o pneu. Foi quando uma Mercedes se aproximou dirigida por um senhor elegante que usava óculos escuros. Há pessoas que usam óculos escuros mesmo de noite. A Mercedes parou e o homem de óculos escuros saiu. "Precisando de ajuda, boneca", ele perguntou? "Claro", ela respondeu. "Preciso que me ajudem a trocar o pneu furado". "Pois vou ajudar você" disse o homem. "Você precisa de proteção. Esse lugar é muito perigoso. A propósito, deixe que me apresente. Meu nome é Crescêncio Lobo, às suas ordens". Aí ele se pôs a trocar o pneu cantarolando baixinho uma canção que sua mãe lhe cantara: "Hoje estou contente, vai haver festança, tenho um bom petisco para encher a minha pança..." Rúbia, olhando para o Crescêncio Lobo, pensou: "Que homem gentil e prestativo! E ainda canta enquanto trabalha... É dono de uma Mercedes! Acho que minhas orações foram atendidas!" "Pronto", ele disse. "Para onde você está indo, boneca?" "Vou levar uma cesta básica para minha avó." "Pois eu vou segui-la para protegê-la..." E assim, Rúbia, sorridente sonhadora, se dirigiu para a casa de sua avó escoltada por Crescêncio Lobo.

Ao chegar à casa da avó Crescêncio Lobo se surpreendeu. Pensou que ia encontrar uma velhinha, parecida com a avó de Chapeuzinho Vermelho. Que nada! Era uma linda mulher, uma senhora elegante, fina, de voz suave, inteligente. Logo os dois estavam envolvidos numa animada conversa, Crescêncio Lobo encantado com o suave charme e a inteligência da avó, a avó encantada com o encantamento que Crescêncio Lobo sentia por ela. Crescêncio Lobo pensou: "Se não fossem essas rugas, ela seria uma linda mulher..." Rúbia percebeu o que estava rolando, e foi ficando com raiva, vermelha, até que teve um ataque histérico. Como admitir que Crescêncio Lobo preferisse uma velha a uma adolescente? Começou a gritar, e por mais que os dois se esforçassem, não conseguiram acalmá-la. Passava por ali, acidentalmente, uma viatura do 5º Distrito Policial. Os policiais, ouvindo a gritaria, imaginaram que um crime estava acontecendo. Pararam a viatura e entraram na casa. E o que encontraram foi aquela cena ridícula: uma adolescente ruiva, desgrenhada, gritando como louca, enquanto a avó e o Crescêncio Lobo tentavam acalmá-la. Os policiais perceberam logo que se tratava de uma emergência psiquiátrica e, com a maior delicadeza, (os policiais do 5º DP são sempre assim. Também pudera! O delegado chefe trabalha ouvindo música clássica!) convenceram Rúbia a acompanhá-los até um hospital para ser medicada. Rúbia não resistiu porque ela já estava encantada com a força e o charme do policial que a tomava pela mão. Afinal, aquele policial era lindo e forte!

Quanto à avó e ao Crescêncio Lobo, aquela noite foi início de uma relação amorosa maravilhosa. Crescêncio Lobo percebeu que não há cara de adolescente cabeça-de-vento que se compare ao estilo de uma senhora inteligente e experiente. E a avó, que ouvira de uma feminista canadense que o melhor remédio para a velhice são os galetos ao primo canto, entregou-se gulosamente a esse hábito alimentar gaúcho. Crescêncio Lobo pagou-lhe uma plástica geral e a avó ficou novinha. E viveram muito felizes, por muitos anos. Quanto à Rúbia, aquela crise foi o início de uma feliz relação com o policial do 5º DP, que tinha um mestrado em psicologia da adolescência...”

Texto de Rubem Alves, extraído do jornal "Correio Popular" – Campinas, edição de 02 de maio de 2002.