domingo, 27 de janeiro de 2008

Não sei onde anda meu Pierrô


Não sei onde anda o meu pierrô. O terno, pendurado no cabide. A pasta, encostada no canto do sofá. O computador, ainda aberto, com a última página escrita, evidência silenciosa de sua dedicação ao novo romance. Saiu, com certeza, o corpo levado pelo som das cuícas e tamborins que repicam insolentes na rua. Não há vinho no balde de gelo, música suave na sala, nem canapés de geléia de damasco com queijo brie, que ele prepara como um verdadeiro chef. Nenhum sinal de espera ou de certeza da minha vinda. Quem sabe foi por aí se acabando num cordão, de reco-reco na mão, transpirando em cada poro a poeira do escritório, o sono das tantas noites de vigília sobre a criação, as perdas, as incompreensões, os afastamentos ...

Não sei onde anda o meu pierrô. Se cercado da cerveja, dos amigos igualmente pierrôs fugitivos de suas colombinas, ou entrelaçado a uma cintura fina e nua, balançando, desentoando marchinhas, esquecendo... O mesmo ritual todos os anos e ainda assim a perplexidade, a dúvida se depois da quarta-feira ele ainda é pra mim, sem camisa amarela, sem fantasia, nos outros trezentos e tantos dias. Percebo desta vez o aparelho de barbear sobre a pia, restos de talco no chão e o perfume masculinamente inconfundível no ar. Cheiro de homem limpo, de homem livre, pronto para os caminhos do desejo. Choro. Choro a inquietação do desconhecido e o medo dessa liberdade. Choro esse fascínio alucinante do carnaval que transforma os pierrôs românticos e os carrega para o sonho e a ilusão onde tudo é permitido. Choro pelo confete e a serpentina que vão se derramar na sua cabeça libertando, rompendo laços, fascinando ...
Súbito descubro a fantasia dobrada ainda na cadeira da sala. Não era verdade, saiu para comprar algo e já, já está de volta. No meio do pranto e do riso, a porta se abre e suado, envolto em cordão de havaiana, ele me toma pela mão, me beija apressado e me diz: “Desculpe, querida, eu só vim buscar o meu pierrô!”

Texto: Ângela Belmiro

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Carnaval Brasileiro - Uma Grande Saudade


Segundo as leis naturais, o homem tem como destino final a perfeição.
O caminho da evolução é só um, e não tem volta. Com a nossa desinformação, podemos até retardar o nosso progresso, dificultar o nosso aprendizado, podemos diminuir o seu ritmo, chegando mesmo à quase estagnação. Mas regredir nunca. Esta é a lei. Mas, durante o nosso trajeto, cometemos tantos erros, adotamos atitudes quase irracionais, destruímos tantas coisas boas e vitais, que um observador atento terá a impressão de que estamos regredindo, contrariando, portanto, a lei natural.
Com o nosso carnaval aconteceu isso. Na ânsia do dinheiro fácil, algumas criaturas conseguiram transformar a maior e mais autêntica festa popular do mundo, festa criada pelo povo, que tinha a liberdade de brincar em plena rua durante três dias consecutivos, extravasando as suas alegrias, tristezas, recalques, de maneira sadia.
O cidadão comum, o médico, o advogado, o operário passava o ano inteiro cumprindo suas obrigações naquela postura de homem sério, cumpridor de todos os seus deveres e obrigações.
Aí chegava o carnaval. O mesmo cidadão se transformava: fantasiado de nega maluca ou bebê chorão e, sob os olhares complacentes da sociedade, vestia uma camisa listrada e saía por aí ... E durante os três dias de carnaval brincava, cantava, sambava de maneira muito louca, esquecendo completamente da falta d’água, do preço do aluguel, da falta de casa para morar, do alto custo de vida ... Tudo isso ao som de sambas e marchinhas carnavalescas, feitas especialmente para o reinado de momo, utilizando como tema os problemas de todos os brasileiros que os compositores exploravam com inteligência e malícia em suas músicas alegres, mas que traduziam a seriedade de uma crítica social muito bem feita.
Este era o carnaval verdadeiro, o carnaval do "Mamãe-eu-quero", da "Jardineira", "Confete" e "É dos carecas que elas gostam mais", e outras obras-primas de nossa música.
Hoje o carnaval ainda é uma grande festa. Uma festa organizada para os desfiles de escolas de samba, com luxuosas fantasias exibidas por pessoas da alta sociedade, por artistas notoriamente conhecidos, ou por jogadores de futebol. Uma festa cujo principal objetivo consiste em atrair turistas - de preferência internacionais - para os luxuosos camarotes das avenidas, vendidos a peso de ouro. Para o povo, o verdadeiro dono da festa, restam três opções: assistir pela televisão, o que é praticamente impossível, tal o tipo de imagens que entrarão em nossos lares, ir para a avenida e pagar ingresso, ou tentar desfilar numa escola de samba, o que é praticamente impossível, tal a guerra que existe pela disputa dos lugares. As músicas carnavalescas não existem mais. Hoje o que temos é o samba-enredo. Quase sempre uma música chata, monótona, cuja letra fala num montão de besteiras sem pé nem cabeça, e que é composta com o único objetivo de dar sustentação ao desfile da escola por algumas horas, sendo logo depois esquecido por todos.
Para Almirante (Henrique Domingues Foreis ), as músicas de carnaval que eram feitas para o povo cantar, começaram a aparecer por volta de 1910 a 1913.
"Pelo Telefone", gravada por Donga em 1917, marcaria o início de um novo carnaval, o carnaval dos sambas e marchas. Em 1918, um ano após o aparecimento de "Pelo Telefone", já foram compostas oito músicas especialmente para o carnaval daquele ano.
Em 1928, foram feitas 120 músicas para o reinado de momo. Em 1931, este número aumentou para 350. O ano de 1957, tínhamos mais de 600 músicas feitas exclusivamente para aquele carnaval. Depois vieram as mudanças, que culminaram com a última composição específica para o carnaval feita em 1968/1969.
Hoje, para as pessoas com 40 anos ou mais, o carnaval brasileiro é realmente uma grande saudade. Uma saudade com um misto de desencanto, de frustração, fazendo com que nos preocupemos com aquela máxima que diz: "Um povo que não preserva as suas origens perde a sua identidade. Um povo que não sabe de onde veio, não saberá para onde ir."

Texto: Beni Galter
Imagem: Carnaval em Madureira, de 1924, óleo sobre tela - Tarsila do Amaral

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Carnaval


O Carnaval é um período de festas regidas pelo ano lunar que tem suas origens na Antiguidade e recuperadas pelo Cristianismo, que começava no dia de Reis (Epifania) e acabava na Quarta-feira de cinzas, às vésperas da Quaresma. O período do Carnaval era marcado pelo "adeus à carne" ou "carne nada vale" dando origem ao termo "Carnaval". Durante o período do Carnaval havia uma grande concentração de festejos populares. Cada cidade brincava a seu modo, de acordo com seus costumes. O Carnaval moderno, feito de desfiles e fantasias, é produto da sociedade vitoriana do século XIX. As cidades de Paris e Veneza foram os grandes modelos exportadores da festa carnavalesca para o mundo. Cidades como Nice, Nova Orleans, Toronto e Rio de Janeiro se inspirariam no Carnaval francês para implantar suas novas festas carnavalescas.

Atualmente o Carnaval do Rio de Janeiro, Brasil é considerado um dos mais importantes desfiles do mundo. Em Portugal, existe uma grande tradição carnavalesca, nomeadamente os Carnavais de Ovar, Podence, Loulé, Sesimbra, Rio Maior, Torres Vedras e Sines, destacando-se o de Torres Vedras, Carnaval de Torres, por possuir o Carnaval mais antigo e dito o mais português de Portugal, que se mantém popular e fiel à tradição rejeitando o samba e outros estrangeirismos... Juntamente com o Carnaval de Canas de Senhorim com perto de 400 anos e tradições únicas como os Pizões, as Paneladas, Queima do Entrudo, Despique entre outras.


História e etimologia
Para alguns pesquisadores o Carnaval tem raízes históricas que remontam aos bacanais e a festejos similares em Roma; alguns historiadores mais ousados chegam mesmo a relacionar o Carnaval a celebrações em homenagem à deusa Ísis ou ao deus Osíris, no Antigo Egito. Uma outra corrente acredita que a festa iniciou-se com a adoção do calendário cristão.

A festa carnaval teve seus primeiros relatos em Roma XI. Em Roma havia uma festa, a Saturnália, em que um carro no formato de navio abria caminho em meio à multidão, que usava máscaras e promovia as mais diversas brincadeiras. Essa festa foi incorporada pela Igreja Católica, e segundo alguns a origem da palavra Carnaval é carrum navalis (carro naval). Essa etimologia, entretanto, já foi contestada. Actualmente a mais aceita é a que liga a palavra "Carnaval" à expressão carne levare, ou seja, afastar a carne, uma espécie de último momento de alegria e festejos profanos antes do período triste da quaresma.

Em 1091 a data da Quaresma foi definitivamente estabelecida pela Igreja Católica; como consequência indireta disso, o período de Carnaval se estabeleceu na sociedade ocidental, sofrendo, entretanto, certa oposição da Igreja, na Europa. Embora alguns papas tenham permitido o festejo, outros o combateram vivamente, como o Papa Inocêncio II.

À seqüência do Renascimento o Carnaval adotou o baile de máscaras, e também as fantasias e carros alegóricos. Ao caráter de festa popular e desorganizada juntaram-se outros tipos de comemoração e progressivamente a festa foi tomando o formato atual, que se preserva especialmente em regiões da França (ver Mardi Gras), Itália e Espanha.


Cálculo do dia de Carnaval

Todos os feriados eclesiásticos são calculados em função da data da Páscoa. Como o domingo de Páscoa ocorre no primeiro domingo após a primeira lua cheia que se verificar a partir de 21 de março, e a sexta-feira da Paixão é a que antecede o Domingo de Páscoa, então a terça-feira de Carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa e a quinta-feira do Corpo de Deus ocorre 60 dias após a Páscoa.
(fonte: wikipédia)

Homofobia e Heterossexismo



Os cinéfilos e admiradores da 7a. arte, hoje amanheceram chocados com a divulgação da morte do jovem ator Heath Lodger, protagonista dos filmes, entre outros, O Patriota e Coração de Cavaleiro e, mais recentemente, O Segredo de Brokeback Mountain, onde desempenhou o papel de um peão reprimido por seus desejos sexuais, que se apaixona por cowboy e ambos vivem intenso relacionamento homosexual por cerca de 20 anos. Da indicação de 8 Oscar, o filme recebeu 3 estatuetas em 2007. Os homófobos ligados à seitas religiosas prometem protestos no funeral de Lodger, alegando que "Deus odeia bichas".
Bem a propósito destacamos texto de Eduardo Moraes, no site http://www.abalo.com.br/ , que trata do tema homofobia e heterossexismo, mostrando as diversas causas e as consequências sociais das intolerâncias e preconceitos.

"O que é a homofobia?
Homofobia é a aversão e medo mórbido irracional, desproporcional persistente e repugnante da homossexualidade ou de se tornar homossexual. Mais especificamente a Homofobia caracteriza o medo e o resultante desprezo pelos homossexuais que alguns indivíduos sentem. Para muitas pessoas é fruto do medo de elas próprias serem homossexuais ou de que os outros pensem que o são. O termo é usado para descrever uma repulsa face às relações afetivas e sexuais entre pessoas do mesmo sexo, um ódio generalizado aos homossexuais e todos os aspectos do preconceito heterossexista e da discriminação anti-homossexual.

O que é o heterossexismo?
O termo "heterossexismo" não é familiar para muitos porque é relativamente recente. Relativamente há pouco tempo é que tem sido utilizado, juntamente com "sexismo" e "racismo", para nomear uma opressão paralela, que suprime os direitos das lésbicas, gays e bissexuais. Heterossexismo descreve uma atitude mental que primeiro categoriza para depois injustamente etiquetar como inferior todo um conjunto de cidadãos. Numa sociedade heterossexista, a heterossexualidade é tida como normal e todas as pessoas são consideradas heterossexuais, salvo prova em contrário. O heterossexismo está institucionalizado nas nossas leis, órgãos de comunicação social, religiões e línguas. Tentativas de impôr a heterossexualidade como superior ou como única forma de sexualidade são uma violação dos direitos humanos, tal como o racismo e o sexismo, e devem ser desafiadas com igual determinação.

Manifestações de homofobia internizada:
1. Negação da sua orientação sexual (do reconhecimento das suas atrações emocionais e sexuais) para si mesmo e perante os outros.
2. Tentativas de mudar a sua orientação sexual.
3. Sentir que nunca se é "suficientemente bom" (por vezes tendência para o "perfeccionismo").
4. Fraco sucesso escolar e/ou profissional; ou sucesso escolar e/ou profissional excepcional, como forma de ser aceito.
5. Baixa auto-estima e imagem negativa do próprio corpo.
6. Desprezo pelos membros mais "assumidos" e "óbvios" da comunidade Gay, Lésbica, Bissexual e Transgêneros.
7. Negação de que a homofobia, o heterossexismo, a bifobia, a transfobia, o sexismo são de fato roblemas sociais sérios.
8. Desprezo por aqueles que não são como nós; e/ou desprezo por aqueles que se parecem conosco.
9. Projeção de preconceitos num outro grupo alvo (reforçado pelos preconceitos já existentes na sociedade).
10. Tentativas de passar por heterossexual, casando, por vezes, com alguém do sexo oposto para ganhar aprovação social ou na esperança de "se curar".
11. Controle contínuo dos seus comportamentos, maneirismos, crenças e idéias.
12. Fazer os outros rirem através de mímicas exageradas dos estereótipos negativos da sociedade.
13. Relutância em estar com ou em mostrar preocupação por crianças por medo de ser onsiderado "pedófilo".
14. Práticas sexuais não seguras e outros comportamentos destrutivos e de risco (incluindo riscos de gravidez e de ser infectado com HIV).
15. Separar sexo e amor e/ou medo de intimidade. Por vezes pouco ou nenhum desejo sexual e/ou celibato.
16. Desejo, tentativa e concretização de suicídio.

Crime de homofobia
Infelizmente, a legislação brasileira é omissa no que tange à discriminação baseada na orientação sexual do indivíduo. O que ocorre é a necessidade de uma formulação legal urgente, a fim de acabar, ou pelo menos, reprimir tanta violência praticada contra os homossexuais, justamente porque não há amparo legal. Violências físicas são comuns, levando o Brasil ao ranking de país mais violento do mundo quando o assunto é homossexualidade. Mas, além disso, há uma outra espécie de violência que deveria ser observada pelas autoridades: a violência religiosa. Muito membros de instituições religiosas adotam pontos de vista liberais e outros preferem defender posições mais conservadoras com relação à sexualidade. As discordâncias são profundas e parecem sem solução, pelo menos a curto prazo. A homofobia acaba ganhando espaço e muitos dos atos violentos praticados contra homossexuais se dá a partir da noção deturpada pela religião de que a homossexualidade deve ser destruída. Enquanto este conflito religioso sobre o que é e o que não é permitido, em termos de religiosidade, continuar sem solução, muito sofrimento e inúmeros suicídios ocorrerão dentro da comunidade homossexual. O "banimento" destes indivíduos permanecerá num nível altíssimo e inúmeras mortes e suicídios continuarão a ocorrer enquanto muitos religiosos insistirem a levar a aversão à homossexualidade que suas igrejas pregam e estendê-as como ódio pelos homossexuais. Acredita-se que esta "homofobia sistematizada" (senão dizer, "organizada") é, atualmente, responsável pelas mortes de jovens homossexuais num grau semelhante à responsabilidade pelo extermínio de bruxas e outros"heréticos" durante a Idade Média e a Renascença. É preciso observar, urgentemente, qual é o verdadeiro papel da religião quando o assunto é homossexualidade: Incitar o ódio e a violência, ou amar o próximo como a si mesmo?."

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Eu comigo, aqui e agora


Amar o que eu sou,
TODO indivisível que constitui o ser
e o acontecer do meu corpo,
no espaço e no tempo...

Amar as coisas que eu estou fazendo
e o modo como eu as faço...

Amar as minhas limitações, como amo as minhas possibilidades...
E nos meus acertos e erros, amar o projeto que vai se transformando em obra no trabalho da construção de mim mesmo.

Amar-me como eu estou aqui e agora, vivendo a vida simplesmente, naturalmente, com o ar que eu respiro, o chão que eu piso, as estrelas que eu sonho...

Às vezes gostar de mim é um desafio, uma prova de fogo que revela se eu realmente me amo, ou apenas finjo amar-me...
Gostar de mim na perda, quando a vida me fecha uma porta,
sem nenhum aviso ou explicação...
Gostar de mim quando erro, quando fracasso, quando não dou conta,
quando não faço bem feito
e ainda encontro quem me critique ou zombe de mim por eu ter sido apenas
o que sou:
- limitado, vulnerável, imperfeito, humano.

Gostar de mim no fundo do poço,
cabeça a mil, coração a zero,
e ainda assim ser capaz de ouvir
e respeitar as referências do meu próprio corpo como um amigo fiel, atento e carinhoso...

Eu me relaciono com as outras pessoas do mesmo modo como eu me relaciono comigo...
Se eu me amo, não sei te odiar...
Se eu me odeio, não sei te amar...
Se eu me desprezo, não sei te respeitar...
Se eu me respeito, não sei te desprezar...
Como eu te aceitar, se eu me rejeito?
Como eu te rejeitar, se eu me aceito?

Celebro no amor a mim mesmo
o nascimento do amor pelo meu próximo!


Texto: Geraldo Eustáquio de Souza

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Luzes da Cidade


Texto: Marcio Dolzan
"Considerado por muitos como a obra-prima de Charles Chaplin, Luzes da Cidade tem a tradicional receita do aclamado cineasta: uma história simples muito bem contada, entremeada com humor e romantismo.
Lançado em 1931, Luzes da Cidade foi a mais demorada e difícil obra produzida por Chaplin. Demorou dois anos e oito meses para ser concluída, e foi o primeiro filme mudo produzido depois que o cinema passou a ser falado.
A pressão e a desconfiança sobre o filme foram intensas. Convertido ao cinema falado, Hollywood queria que a obra de Chaplin também tivesse o “modernismo” das falas. Por insistência do cineasta, não teve. E foi um sucesso.
... No filme, o Vagabundo se apaixona por uma jovem cega, que sustenta a si e à avó vendendo flores. No momento que se conhecem, a florista acaba pensando que o Vagabundo é um homem rico, e ele então faz de tudo para não desapontá-la. Arranja os mais diversos empregos e participa de uma luta com o único intuito de levar comida e dinheiro para pagar as contas da jovem.
O maior desafio do Vagabundo, contudo, é conseguir dinheiro para que florista consiga realizar a operação que lhe devolverá a visão. Acaba conseguindo com um milionário amigo seu, mas, por um mal-entendido, é preso, acusado de roubo.
Meses depois, ao ser solto, caminhando pela cidade, acaba se deparando com a jovem. A moça já consegue enxergar, mas é quando o toca que reconhece o homem que tanto afeto lhe deu. Nesse momento, uma simples palavra – “você” –, somada a uma fenomenal interpretação de Chaplin, criou uma das cenas mais celebradas da história do cinema. E encerrou com muito lirismo um dos grandes filmes produzidos pela sétima arte."
VIDA
(Charles Chaplin)

"Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
Já me decepcionei com pessoas
quando nunca pensei me decepcionar,
mas também decepcionei alguém.

já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
já fiz amigos eternos,
já amei e fui amado,
mas também
já fui rejeitado.

Já fui amado e não soube amar.
Já gritei e pulei
de tanta felicidade,
já vivi de amor
e fiz juras eternas,
mas "quebrei a cara"
muitas vezes!
Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só pra escutar uma voz,
já me apaixonei por um sorriso.
Já pensei que fosse morrer de tanta saudade e...
tive medo de perder alguém especial
(e acabei perdendo)
Mas sobrevivi !

E ainda vivo!
Não passo pela vida...
e você também não deveria passar. Viva!!!
Bom mesmo é ir a luta com determinação,
abraçar a vida e viver com paixão,
perder com classe e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e A VIDA É MUITO
para ser insignificante".

Os Mensageiros da Eternidade


Nós, os sensíveis, temos a luz brilhando dentro de nós.
A nossa sabedoria muitas vezes
pode ser confundida com a loucura por pessoas de mentira...
por aquelas pessoas que vivem presas a um mundo automático.

Nós, os sentimentais, os alquimistas, os arrependidos pelos erros,
os filhos amados que foram deixados pra trás num deserto...
os que têm fé inabalável, os sonhadores.
Os loucos de amor muitas vezes já fomos considerados as ovelhas negras da família...
mas os nossos sentimentos profundos como o mar...
nos transformaram, aos poucos,
em cordeiros mansos que pastam felizes pelos campos verdes...

Dentro de nós ardem paixões interiores
capazes de derreter qualquer geleira.
Nós já morremos incontáveis vezes...
já renascemos outras tantas mais fortes,
mais determinados
em encontrar a nossa felicidade.

Nós, os sensíveis, somos invencíveis pelas lágrimas e...
imbatíveis pelo sorriso...
Muitos de nós, os sensíveis,
carregamos na alma e até nos corpos,
marcas da nossa paixão pela vida.
Do mais fraco ao mais forte, do mais bonito ao mais feio.
Não somos medidos pela nossa formosura ou pela grandeza
do nosso corpo...
mas somos admirados pelo poder do nosso coração,
pela força que emanamos de dentro de nosso olhar.
...e as pessoas de mentira ficam sem entender como nós,
os sensíveis, conseguimos ter tanto poder!

Nós os sensíveis estamos aqui para fazer a diferença.
Ninguém nos conhece pela superfície...
mas pela profundidade de nossos bons pensamentos.
Não somos santos...mas somos anjos.

Não somos perfeitos...
mas é na nossa imperfeiçãoque mostramos nossas maiores virtudes.
Não é pela casca que queremos ser conhecidos.
Queremos um relacionamento íntimo
com tudo e com todos que nos cercam.
Podemos errar...fracassar em quase tudo,
mas jamais fracassaremos como seres humanos.

Somos incompreendidos,
porque muitas vezes não sabemos expressar quem somos de verdade.
Ainda que o nosso corpo envelheça e fique doente...
nada pode tocar o coração de um sensível
senão a mão do Supremo Criador.

Nós, os sensíveis...
mesmo de longe nos juntamos em espírito
num coral para cantar uma canção que curará toda pessoa de mentira.
Por alguns instantes o mundo parará para ouvir o nosso canto,
e se apaziguará por alguns poucos momentos...
E por alguns momentos elas também vão ser sensíveis como nós...
quando perceberem que no rosto do outro
está o espelho de sua própria face.

Nós, os sensíveis, temos o dom de sentir o que os outros sentem...
de traduzir seus pensamentos porque nosso coração capta
o que os outros corações transmitem...
Mas nós somos uma brasa viva
no meio da neve...
ou um oásis o meio do deserto.

Estamos aqui para mostrar aos outros
que a alma existe...
e que a matéria passará.
Mas que temos vida para todo o sempre.
Somos donos da sabedoria universal.
Acreditamos num Deus comum a todos seres humanos.
Num Deus que habita todas as religiões.

Num abraço do sensível está a graça do Universo.
Nós, os sensíveis, somos os
mensageiros da eternidade...

Texto: André Aquino

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Deus e eu


Você acredita que o Universo tenha tido um criador? E, se acredita, como se relaciona com ele? Será que você tem idéia de que a imagem interna que você tem de Deus pode influenciar sua vida, quer acredite nele ou não?
A camiseta branca bordada com strass cintilava na vitrine. Era impossível desviar o olhar da frase que ela trazia: "Who is your God?" Ou: quem é o seu Deus? Diante dessa pergunta tão inesperada numa loja de shopping, nenhuma resposta seria melhor do que o silêncio. E mais perguntas: "Quem é o Deus em que eu acredito? Quem está no lugar dele, se resolvi eleger outras prioridades na vida? Que relação tenho com ele? Íntima, distante, fria, ocasional? Ou realmente já fechei questão de que ele não existe?"
Uma hora na vida a gente vai se fazer essas perguntas seriamente, com camiseta branca chamando nossa atenção ou não. E, quando a gente fizer, vale a pena escutar o que dizem as pessoas que já fizeram - e saber algumas das respostas que elas encontraram ou, então, o que as deixou perplexas e fascinadas. Pela quantidade de livros que falam do assunto atualmente, muita gente já colocou para si mesma essas questões. A mais recente onda, por exemplo, é a dos livros escritos por cientistas especializados em neurociência, genética, matemática, física e biofísica. Eles, como outros autores que se arriscam nesse tema, revelam dados surpreendentes. E você nem imagina quanto.
Se alguém quisesse deixar Einstein irritado, era só insinuar que ele era ateu. Não só ele não se considerava ateu, como nutria uma certa antipatia por quem não acreditava em Deus (calma, se você não crê, também existem grandes nomes da ciência que vão lhe dar razão). Segundo sua biografia recém-lançada, Einstein, de Walter Isaacson, o físico alemão costumava dizer que os ateus haviam conseguido se libertar dos grilhões por não acreditarem mais num Deus infantil, mas que ainda assim sentiam o peso das correntes por não conseguir conceber a idéia de um Deus revelado na harmonia do Universo.
Era justamente a dança do cosmo, das galáxias aos átomos, que fascinava Einstein. Aquilo tudo não podia ser por acaso. A sincronia que ele conseguia vislumbrar como cientista sempre o deixou reverente. Mas vale perguntar: quem era esse Deus em que Einstein acreditava?
Não era ninguém com quem se pudesse manter uma relação pessoal, seja rezar, seja adorar. Era mais como uma Inteligência impessoal, uma Grande Mente que ressoava na música das esferas celestes, que estava presente em tudo e em todos, e de quem ninguém era objetivamente separado. Einstein, apesar de ser judeu e ter estudado numa escola católica, tinha simpatia pelas idéias budistas e essa forma não pessoal da divindade o interessava muito. Na verdade, ele enxergava o Absoluto em todas as manifestações. E aqui, junto com Einstein, chegamos a um ponto fundamental. Cada um acredita, ou deixa de acreditar, no seu Deus. Quando alguém diz que não crê em Deus, é preciso perguntar: em qual?

Onde tudo começa
A idéia que temos de Deus é formada na psique durante a tenra infância, dos 3 aos 7 anos, de acordo com o criador da Psicologia Analítica, o suíço Carl Gustav Jung. Ele foi um dos primeiros investigadores da psique a se interessar por esse assunto. Jung chamava essa idéia primordial, ou arquétipo, de Imago Dei ­ imagem de Deus. Ele afirmava que essa imagem formada na infância continua a influenciar nossa vida, ainda que, quando adultos, digamos que deixamos de acreditar em Deus. Dizia Jung que mesmo um ateu ou agnóstico usará essa imagem como ponto de referência, mesmo que seja para não crer nela. Em outras palavras, você pode até não acreditar em Deus, mas não vai se livrar desse conceito imaginário tão facilmente. A Imago Dei continuará firme e forte como uma marca indelével em sua psique. "Essa influência está sempre ali como pano de fundo para tudo o que desejamos na vida, estejamos conscientes disso ou não", afirma o psiquiatra e psicanalista junguiano Luiz Geraldo Benetton.
E sabe como se dá o processo da formação da Imago Dei em nossa psique? Ela é construída a partir do acolhimento e do amor que tivemos de nossos pais. Portanto, afirmava Jung, Deus será, para nós, mais amoroso e próximo, ou mais rígido e distante, de acordo com o relacionamento que tivemos com nossos genitores. Há algum tempo fizeram uma pesquisa muito interessante: pediram para crianças de 5 a 6 anos de pequenos vilarejos do Leste Europeu para desenharem Deus. Elas viviam em lugares isolados e não foram expostas à mídia ou à influência de igrejas. "O mais interessante é que todas fizeram os traços de Deus com aspectos ou qualidades de seus pais", diz Benetton. Pode-se dizer que pais amorosos e acolhedores nos ajudam a ter uma imagem mais positiva de Deus e que pais mais autoritários ou frios podem influenciar numa imagem mais punitiva ou distante.
Dependendo do caso, essas associações de infância podem ser bastante positivas. Por exemplo, o escritor Michael Cunningham, autor do romance As Horas, imagina Deus como uma mulher bondosa e negra, assim como foi sua babá. "Considero que essas imagens se formam bem cedo em nossas vidas. Quando penso em Deus, penso nela", confessou ao cineasta Antonio Monda, que entrevistou atores, escritores e diretores de cinema para escrever o livro Deus e Eu. Para a maioria das pessoas, Deus está ligado à imagem de um ser que satisfaz nossas necessidades. Se eu quero isso, peço para Deus, se quero aquilo, ele também me dará. "Numa escala de 1 a 9 que pudesse medir a compreensão que temos de Deus, a maioria das pessoas não ultrapassaria o nível 3. O entendimento que temos do Criador é ainda de um provedor, como o pai e a mãe, que está no céu para atender às nossas vontades."
Lembra aquelas cartas que as crianças escreviam para Deus em um livro infantil? Numa delas, uma menina de 8 anos resume bem nossa relação com o Criador. A garota escreveu: "Querido Deus, muito obrigado pelo meu irmãozinho. Mas quando rezei para o Senhor, na verdade tinha pedido um cachorro..." Muitas pessoas acham que o processo é este: a gente pede uma coisa, e o Todo-Poderoso parece que dá outra. E nos conformamos repetindo o ditado que diz que Deus escreve certo por linhas tortas.
Porém, uma pequena porcentagem das pessoas consegue ultrapassar suas necessidades infantis e amar a Deus acima de todas as coisas, isto é, acima do que possa acontecer a elas, pessoalmente. Elas encontram o sagrado não só no Universo, mas dentro de si e na sua relação com os outros.
Essa é uma boa deixa para perguntar: "Quem é Deus para mim? Um provedor? Uma inteligência cósmica? Um ser próximo e amoroso? Um estado de amor perene e impessoal?" É bom deixar isso claro antes de partir, se for o caso, para sua negação.

A linguagem de Deus
O cientista Francis Collins é o diretor responsável pelo Projeto Genoma. Ao tentar desvendar o mapeamento genético do ser humano, foi tomado por intenso sentimento de veneração a Deus, com base no que reconheceu como sendo uma das suas mais intrincadas criações: o DNA. Escreveu ele em seu livro: "Hoje estamos aprendendo a linguagem pela qual Deus fez a vida. Estamos ficando cada vez mais admirados pela complexidade, pela beleza e pela maravilha da dádiva mais divina e mais sagrada de Deus". Como Einstein, Francis Collins não é bobo. Seu Deus não é um homem velho de barbas brancas. Detalhista, ele resume no livro as diferentes visões históricas de Deus e como elas espelham a sociedade política, social e econômica de uma época. Com bom humor, também analisa as mais recentes concepções de Deus - por exemplo a que coloca Deus como o mais perfeito e inteligente designer do Universo. A idéia surgiu em 1991 com o livro Darwin em Julgamento, de Phillip Johnson, um professor da Universidade de Berkeley, na Califórnia. Segundo ele, a teoria da evolução não seria suficiente para explicar a perfeição da natureza, do DNA ao universo atômico, das constelações aos microorganismos. Pois haveria uma inteligência por trás disso, a ID (Inteligent Design). Essa teoria foi abraçada por outro professor, William Dembsky, um matemático especialista em ciências da computação que analisou as probabilidades estatísticas de tanta perfeição (sim, a conclusão é que é matematicamente impossível que o Universo seja obra do acaso ou apenas da evolução).
Esse Deus criador impessoal, mas distante, me faz lembrar de um vizinho, que resumia sua relação com o Criador da seguinte forma: "É a mesma que tenho com o síndico do prédio. Sei que ele está tomando conta de tudo e, às vezes, o encontro no elevador". Isto é, ele deixava tudo a cargo da administração geral. Nos momentos de aperto chamava o chefão para um papo. Ou então deixava por conta dos encontros fortuitos. Existe muita gente assim.

A nova onda
Ainda existem dezenas de outros conceitos sobre Deus na área científica. A tendência atual, no entanto, é o conceito do BioLogos, o Deus que "usa" a evolução para aperfeiçoar seu projeto. De acordo com essa visão, defendida pelo próprio diretor do Projeto Genoma, a criação não seria tão perfeita assim ("o que dizer do apêndice?", pergunta). Segundo Collins, a criação é um projeto em direção à perfeição, constantemente reformulado e aperfeiçoado com base na lei da evolução. Assim, matamos dois coelhos de uma tacada só. Não se é nem só criacionista nem só darwinista, mas um pouco de cada coisa.
No Brasil, o professor-titular de neurocirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Raul Marino Jr., também dá uma importante contribuição à discussão sobre Deus, com seu livro A Religião do Cérebro, que analisa a possibilidade de uma área cerebral responsável pelo conceito de Deus. O doutor Marino traz a pesquisa do neurocientista americano Michael Persinger, que foi capaz de isolar no cérebro a zona (o lobo temporal direito) responsável por uma sensação mística de transcendência, sensação que pode ser reproduzida em laboratórios com a estimulação de campos magnéticos transcranianos.
Outra pesquisa relatada por ele mostra que os processos místicos ou espirituais se valem das mesmas estruturas neurais do cérebro que o processo sexual, embora tenham origens diferentes (o processo sexual é acionado pelas sensações e o místico se inicia diretamente no hipotálamo). Por isso é que tantos santos descreveriam o êxtase e a sensação de união com Deus de forma tão erótica. Não é para menos, tudo acontece no mesmo meio-de-campo dentro do cérebro. Porém, longe de querer provar a não-existência do Criador com essas pesquisas, o médico traça um caminho em que elas só comprovam uma existência maior - e que se vale dos nossos processos neurológicos para se manifestar.

Deus e o solo de sax
Um incomensurável oceano de amor que habita tanto o cosmo quanto nosso coração é a matéria-prima de muitas religiões. É dele que falam os evangelhos cristãos, o Alcorão ou a Torá. É um Ser que quer a relação com suas criaturas, no nível delas, e da maneira que elas são capazes. "Esse Deus que aceita meus trancos e barrancos me interessa", afirma a psicóloga paulista Maria Helena Monti. "Ele me parece mais real", diz ela. É para garantir essa relação mais próxima com o sagrado que as religiões oferecem uma legião de intermediários em nossa relação com Deus: santos, anjos e arcanjos, virgens e mestres, ou a própria divindade, mas encarnada como ser humano, como Jesus ou Krishna. Se Deus é o Absoluto Supremo, os intermediários mais próximos a nós parecem compreender melhor nossas fraquezas e limites. Às vezes é mais fácil começar por eles.
Mas como realmente amar aquele que só é Amor e nos aproximarmos mais dele, com todas nossas limitações? No livro Como os Pinguins me Ajudaram a Entender Deus, o pastor americano Donald Miller dá um bom exemplo. Ele diz que não gostava de jazz por ser uma música impossível de ser definida, difícil de entender e muito distante dele mesmo - mais ou menos como o conceito que ele tinha de Deus. Até que viu um homem tocando um solo de jazz no saxofone numa esquina de sua cidade. Durante 15 minutos, o músico parecia estar completamente embevecido e extasiado com a experiência. Naquele momento, Donald Miller achou que poderia começar a gostar de jazz. "Algumas vezes você precisa ver alguém amar muito alguma coisa antes mesmo de você conseguir amá-la. É como se a pessoa estivesse lhe mostrando o caminho", diz ele.
Hoje muitas pessoas parecem estar mostrando o caminho de como amar a Deus - sejam cientistas, teólogos, filósofos ou o músico da esquina. É só começar a prestar atenção.


Para saber mais, leia os livros:
- A Linguagem de Deus, Francis Collins, Gente
-A Natureza Ama Esconder-se, Shimon Malin, Horus
- A Religião do Cérebro, Raul Marino Jr., Gente
- Como os Pinguins me Ajudaram a Entender Deus, Donald Miller, Thomas Nelson Brasil
- Deus e Eu, Antonio Monda, Casa da Palavra
- Deus, um Delírio, Richard Dawkins, Companhia das Letras
- Eclipse de Deus, Martin Buber, Verus
- O Delírio de Dawkins, Alister McGrath & Joanna McGrath, Mundo Cristão
- Vivenciando Deus, Leonardo Boff, Vozes
- Einstein, Walter Isaacson, Companhia das Letras
Autoria: Liane Alves

domingo, 13 de janeiro de 2008

Feliz Olhar Novo


FELIZ OLHAR NOVO

(Carlos Drummond de Andrade)


O grande barato da vida é olhar para trás e sentir orgulho da sua história.

O grande lance é viver cada momento como se a receita da felicidade fosse o AQUI e o AGORA. Claro que a vida prega peças. É lógico que, por vezes, o pneu fura, chove demais...

Mas, pensa só: tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia?

Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma discussão na ida pro trabalho? Quero viver bem.

O ano que passou foi um ano cheio.

Foi cheio de coisas boas e realizações, mas também cheio de problemas e desilusões. Normal.

Às vezes se espera demais das pessoas. Normal.

A grana que não veio, o amigo que decepcionou, o amor machucou. Normal.

O próximo ano não vai ser diferente.

Muda o século, o milênio muda, mas o homem é cheio de imperfeições, a natureza tem sua personali-dade que nem sempre é a que a gente deseja, mas e aí? Fazer o quê? Acabar com seu dia? Com seu bom humor? Com sua esperança?

O que eu desejo para todos nós é sabedoria!

E que todos saibamos transformar tudo em uma boa experiência!

Que todos consigam perdoar o desconhecido, o mal educado. Ele passou na sua vida. Não pode ser responsável por um dia ruim...

Entender o amigo que não merece nossa melhor parte. Se ele decepcionou, passe-o para a categoria três, a dos colegas. Ou mude de classe, transforme-o em conhecido. Além do mais, a gente, provavelmente, também já decepcionou alguém.

O nosso desejo não se realizou? Beleza, não tava na hora, não deveria ser a melhor coisa pra esse momento (me lembro sempre de um lance que eu adoro: ( CUIDADO COM SEUS DESEJOS, ELES PODEM SE TORNAR REALIDADE).

Chorar de dor, de solidão, de tristeza faz parte do ser humano. Não adianta lutar contra isso. Mas se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com generosidade, as coisas ficam diferentes.

Desejo para todo mundo esse olhar especial.

O próximo ano pode ser um ano especial, muito legal, se entendermos nossas fragilidades e egoísmos e dermos a volta nisso. Somos fracos, mas podemos melhorar. Somos egoístas, mas podemos entender o outro.

O próximo ano pode ser o máximo, maravilhoso, lindo, espetacular... ou... pode ser puro orgulho!
Depende de mim, de você!

Pode ser. E que seja!!!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Oração por mim Mesma


Que eu me permita olhar e escutar e sonhar mais .
Falar menos. Chorar menos...
Ver nos olhos de quem me vê a admiração que eles me têm.
Escutar com meus ouvidos atentos e minha boca estática, as palavras que se
fazem gestos e os gestos que se fazem palavras .
Permitir sempre escutar aquilo que eu não tenho me permitido escutar.
Saber realizar os sonhos que nascem em mim, e comigo morrem por eu não os
saber sonhos ...
Então, que eu possa viver os sonhos possíveis e os
impossíveis; aqueles que morrem e ressuscitam a cada novo fruto... a cada
nova flor... a cada novo calor... a cada nova geada, a cada novo dia!
Que eu possa sonhar o ar... sonhar o mar... sonhar o amar, sonhar o
amalgamar!

Que eu me permita o silêncio das formas, dos movimentos, do impossível,
da imensidão de toda a profundeza... que eu possa substituir as minhas
palavras... pelo toque, pelo sentir, pelo compreender, pelo segredo das
coisas mais raras...

Que eu saiba observar a exuberância das pequenas
manifestações da vida...

Que eu saiba reproduzir na alma a imagem que entra pelos meus olhos,
fazendo-me parte suprema da natureza, criando-me e recriando-me a cada
instante.

Que eu possa chorar menos de tristezas e mais de contentamentos. Que meu
choro não seja em vão e, em vão, não sejam minhas dúvidas!

Que eu saiba perder meus caminhos mas saiba recuperar meus destinos com
dignidade.

Que eu não tenha medo de nada, principalmente de mim mesma...Que eu não tenha medo de meus medos!

Que eu adormeça toda vez que for derramar lágrimas inúteis, e desperte com o coração cheio de esperanças.

Que eu faça de mim uma mulher serena dentro de minha própria turbulência. Sábia, dentro dos meus limites pequenos e inexatos, humilde, diante das minhas grandezas tolas e ingênuas.

Que eu mostre o quanto são pequenas minhas grandezas, e o quanto é valiosa minha pequenez.

Que eu me permita ser mãe, ser pai, e se for preciso, ser órfã .
Permita-me ensinar o que sei e aprender o muito que não sei, traduzir o que os mestres ensinaram e compreender a alegria com que os simples traduzem suas experiências. Respeitar, incondicionalmente, o ser ; o ser por si só , por mais que possa ter além de sua essência , auxiliar a solidão de quem chegou, render-me ao motivo de quem partiu e aceitar a saudade de quem fico .

Que eu possa amar e ser amada. Que eu possa amar mesmo sem ser amada, fazer gentilezas quando recebo carinhos, fazer carinhos mesmo quando não recebo gentilezas.

Que jamais eu fique só, mesmo quando eu me queira só.

Amém!
(autoria desconhecida)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Sempre é tempo de repensar o Ano Novo - AIPT


Em 2008 comemora-se o Ano Internacional do Planeta Terra, o AIPT. A idéia da criação do evento surgiu em 2002, e a motivação veio em função dos 50 anos do Ano Geofísico Internacional, que deu início a uma série de estudos sobre a Terra enquanto um sitema integrado. Com o apoio de 191 países, incluindo o Brasil, a decisão foi anunciada pela Assembléia Geral das Organizações das Nações Unidas (ONU) no ano passado. Participe direta e ativamente do AIPT e que,
EM 2008 VOCÊ:

ECONOMIZE ÁGUA:
Segundo a ONU, a escassez de água já atinge 2 bilhões de pessoas.Esse número pode dobrar em menos de 20 anos. Faça a diferença em 2008 usando a água racionalmente, desligando a torneira enquanto escova os dentes e tomando banho em 6 minutos.

CONSUMA MENOS CARNE:
O consumo de carne animal gera desmatamento, desequilíbrio ambiental, poluição e desigualdade social. É também um dos fatores responsáveis pelo aquecimento global. Um Ano Melhor para todos pode começar na mesa de casa.

APAGUE A LUZ:
Todo mundo deseja mais luz no Ano Novo. Deseje você também para as gerações futuras, apagando todas as luzes que não utiliza, abrindo as janelas, desligando o ar condicionado, e utilizando conscientemente o chuveiro e o ferro de passar.

DEIXE O CARRO EM CASA:
Ao deixar o carro em casa uma vez por semana você reduz consideravelmente a emissão de gases efeito estufa na atmosfera, colabora com o trânsito, se exercita e torna a cidade mais agradável. Que no Ano Novo você vá a muitos lugares bacanas a pé, de bicicleta, de ônibus e de metrô.

CONSUMA ORGÂNICOS:
Alimentos orgânicos não possuem agrotóxicos e respeitam os ciclos das plantas, insetos e pássaros, essenciais para a manutenção de nossa vida. Também são mais saborosos e saudáveis. Que seu Ano Novo seja farto de escolhas conscientes e sustentáveis.

USE MENOS PAPEL:
Apesar de se precisar cada vez menos de papel, a demanda por ele cresce ano a ano, consumindo rapidamente florestas e ecossistemas inteiros. O reflorestamento faz pouco efeito, uma vez que ele não traz de volta espécies nativas, animais e insetos. Use folhas usadas como rascunho e não imprima e-mails sem necessidade. Ajude a garantuir um Ano Novo e um futuro mais verde para todos.

UTILIZE MENOS SACOLINHAS:
As inocentes sacolinhas plásticas do supermercado geram resíduos que levam centenas de anos para se decompor na natureza, além de aumentar os custos dos produtos. No oceano, são confundias com algas pelas tartarugas e outros animais, que as comem e morrem asfixiados. Leve sua própria sacola quando for fazer compras, para que o Ano Novo e o Amanhã das gerações futuras seja mais próspero e menos poluído.

PROSPERE DE FORMA SUSTENTÁVEL:
Melhor que desejar um Próspero Ano Novo, é desejar um Sustentável Ano Novo. Que você consiga realizar seus sonhos, sem se esquecer do impacto que eles podem ter no meio ambiente e no futuro de nossos filhos e netos. Escolha com consciência os produtos que você compra.

SEJA VOLUNTÁRIO:
Tire aquele velho plano da gaveta e informe-se sobre instituições que precisam de voluntários. Há milhares de pessoas por aí cujo melhor presente no Ano Novo seria um pouquinho de sua atenção e do seu carinho.

MUDE O MUNDO:
Pequenas ações individuais são a maior força transformadora que se conhece. Ter uma atitude consciente em relação aos nossos hábitos de consumo é a melhor (e talvez única) maneira de se mudar o mundo. Economize água, luz, recicle seu lixo, faça a sua parte e ajude a construir um futuro para todos. Que no Ano Novo você consiga transformar tudo que está dentro e fora de você!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Novas Energias para 2008


Acabaram-se as festas, é hora de aproveitar as férias e organizar sua casa, sua vida. Sem querer tirar o mérito da amiga , especialista em Feng Shui, permito-me apontar questões para que possamos nos renovar e começar 2008 com energias reparadoras.

A bagunça é inimiga da prosperidade....Ninguém está livre da desorganização. A bagunça forma-se sem que se perceba e nem sempre é visível. A sala parece em ordem, a cozinha também, mas basta abrir os armários para ver que estão cheios de inutilidades. De acordo com o Feng Shui Interior - bagunça provoca cansaço e imobilidade, faz as pessoas viverem no passado, engorda, confunde, deprime, tira o foco de coisas importantes, atrasa a vida e atrapalha relacionamentos.
Para evitar tudo isso fique atento às OITO REGRAS PARA DOMAR A BAGUNÇA:

1. Jogue fora o jornal de anteontem.
2. Somente coloque uma coisa nova em casa quando se livrar de uma velha.
3. Tenha latas de lixo espalhadas nos ambientes. Use-as e limpe-as diariamente.
4. Guarde coisas semelhantes juntas; arrume roupas no armário e fique só com as que utiliza mesmo.
5. Toda sexta-feira é dia de jogar papel fora.
6. Todo dia 30, faça limpeza geral e use caixas de papelão marcadas:lixo, consertos, reciclagem, em dúvida, presentes, doação.
7. Organize no seu ritmo. Comece por gavetas e armários e depois escolha um cômodo, passe para o outro e observe as mudanças acontecendo na sua vida.
8. Divulgue essas dicas para o maior número de pessoas possível e mentalize que, quando todos colocarem essas regras em prática, o mundo será mais belo e feliz.

Vamos tentar melhorar nossa energia pessoal. Atitudes erradas jogam energia pessoal no lixo. Posicionar os móveis de maneira correta, usar espelhos para proteger a entrada da casa, colocar sinos de vento para elevar a energia ou ter fontes d'água para acalmar o ambiente são medidas que se tornarão ineficientes se quem vive neste espaço não cuidar da própria energia. O ambiente faz a pessoa, e vice-versa. A perda de energia pessoal pode ser manifestada de várias formas, tais como:
- a falha de memória (o famoso "branco");
- o cansaço físico, o sono deixa se ser reparador;
- a ocorrência de doenças degenerativas e psicossomáticas.

Por falta de energia, o crescimento pessoal, a prosperidade e a satisfação diminuem, os talentos não se manifestam, o magnetismo pessoal desaparece, o medo constante de que o outro o prejudique aumenta, bem como a competição, o individualismo e a agressividade. Veja uma lista de atitudes pessoais capazes de esgotar as nossas energias. Conheça cada dessas ações para evitar a "crise energética pessoal".
1. Maus hábitos - falta de cuidado com o corpo, com o descanso, com a boa alimentação, hábitos saudáveis, exercícios físicos e o lazer são sempre colocados em segundo plano. A rotina corrida e a competitividade fazem com que haja negligência em relação a aspectos básicos para a manutenção da saúde energética.

2. Pensamentos obsessivos - Pensar gasta energia, e todos nós sabemos disso. Ficar remoendo um problema cansa mais do que um dia inteiro
de trabalho físico. Quem não tem domínio sobre seus pensamentos - mal comum ao homem ocidental, torna-se escravo da mente e acaba gastando a energia que poderia ser convertida em atitudes concretas, além de alimentar ainda mais os conflitos. Não basta estar atento ao volume de pensamentos, é preciso prestar atenção à qualidade deles.Pensamentos positivos, éticos e elevados podem recarregar as energias, enquanto o pessimismo consome energia e atrai mais negatividade para nossas vidas.

3. Sentimentos tóxicos - Choques emocionais e raiva intensa também esgotam as energias, assim como ressentimentos e mágoas nutridos durante anos seguidos. Não é à toa que muitas pessoas ficam estagnadas e não são prósperas. Isso acontece quando a energia que alimenta o prazer, o sucesso e a felicidade é gasta na manutenção de sentimentos negativos. Medo e culpa também gastam energia, e a ansiedade descompassa a vida.Por outro lado, os sentimentos positivos, como a amizade, o amor, a confiança, o desprendimento, a solidariedade, a auto-estima, a alegria e o bom-humor recarregam as energia e dão força para empreender nossos projetos e superar os obstáculos.

4. Fugir do presente - As energias são colocadas onde a atenção é focada.O homem tem a tendência de achar que no passado as coisas eram mais fáceis: "bons tempos aqueles!", costumam dizer. Tanto os saudosistas, que se apegam às lembranças do passado, quanto aqueles que não conseguem esquecer os traumas, colocam suas energias no passado. Por outro lado, os sonhadores ou as pessoas que vivem esperando pelo futuro,depositando nele sua felicidade e realização, deixam pouca ou nenhuma energia no presente. E é apenas no presente que podemos construir nossas vidas.

5. Falta de perdão - Perdoar significa soltar ressentimentos, mágoas e culpas. Libertar o que aconteceu e olhar para frente.Quanto mais perdoamos, menos bagagem interior carregamos, gastando menos energia ao alimentar as feridas do passado. Quem não sabe perdoar os outros e a si mesmo, fica "energeticamente obeso", carregando fardos passados. Mais do que uma regra religiosa, o perdão é uma atitude inteligente daquele que busca viver bem e quer seus caminhos livres, abertos para a felicidade.

6. Mentira pessoal - Todos mentem ao longo da vida, mas para sustentar as mentiras muita energia é gasta. Somos educados para desempenhar papéis e não para sermos nós mesmos: a mocinha boazinha, o machão, a vítima, a mãe extremosa, o corajoso, o pai enérgico, o mártir e o intelectual. Quando somos nós mesmos, a vida flui e tudo acontece com pouquíssimo esforço. 7. Viver a vida do outro- Ninguém vive só e, por meio dos relacionamentos interpessoais, evoluímos e nos realizamos, mas é preciso ter noção de limites e saber amadurecer também nossa individualidade. Esse equilíbrio nos resguarda energeticamente e nos recarrega. Quem cuida da vida do outro, sofrendo seus problemas e interferindo mais do que é recomendável, acaba não tendo energia para construir sua própria vida. O único prêmio, nesse caso, é a frustração.

8. Bagunça e projetos inacabados - A bagunça afeta muito as pessoas, causando confusão mental e emocional.Um truque legal quando a vida anda confusa é arrumar a casa, os armários,gavetas, a bolsa e os documentos, além de fazer uma faxina no que está sujo. À medida em que ordenamos e limpamos os objetos, também colocamos em ordem nossa mente e coração. Pode não resolver o problema, mas dá alívio.Não terminar as tarefas é outro "escape" de energia. Todas as vezes que você vê, por exemplo, aquele trabalho que não concluiu, ele lhe "diz" inconscientemente: "você não me terminou! Você não me terminou!" Isso gasta uma energia tremenda. Ou você a termina ou livre-se dela e assuma que não vai concluir o trabalho. O importante é tomar uma atitude. O desenvolvimento do auto-conhecimento, da disciplina e da determinação farão com que você não invista em projetos que não serão concluídos e que apenas consumirão seu tempo e energia.

9. Afastamento da natureza - A natureza, nossa maior fonte de alimento energético, também nos limpa das energias estáticas e desarmoniosas. O homem moderno, que habita e trabalha em locais muitas vezes doentios e desequilibrados, vê-se privado dessa fonte maravilhosa de energia. A competitividade, o individualismo e o estresse das grandes cidades agravam esse quadro e favorecem o vampirismo energético, onde todos sugam e são sugados em suas energias vitais.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

É melhor tentar...



“É melhor tentar

e falhar,

que preocupar-se

e ver a vida passar.

É melhor tentar,

ainda que em vão,

que sentar-se

fazendo nada até o final.

Eu prefiro na chuva caminhar,

que em dias tristes

em casa me esconder.

Prefiro ser feliz,

embora louco,

que em conformidade viver.”


(Martin Luther King)

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Sobre rosas, formigas e tamanduás...


Rubem Alves

O seu nome era Brasilino Jardim. Brasilino Jardim tinha jardim no nome e jardim no coração. Ele amava todas as coisas vivas, de plantas a urubus. A vida, para ele, era sagrada.

Brasilino Jardim não ia à igreja. As pessoas religiosas temiam por sua alma e se perguntavam: "Ele não sabe que é preciso ir à igreja para estar bem com Deus? Quem não está bem com Deus corre perigo! Deus castiga!"

Brasilino sorria um sorriso manso e perguntava: "Onde está dito, nas Sagradas Escrituras, que Deus fez uma igreja? Todo Poderoso, se quisesse igrejas teria feito igrejas. Todo Poderoso, ele fez o que queria. E o que é que ele fez? Plantou um jardim. E está dito que ele 'andava pelo jardim ao vento fresco da tarde!' Quando estou no jardim sei que estou andando no lugar que Deus ama. Deus ama a vida, o vento, o sol, a terra, a água — coisas que estão no jardim. Mas as igrejas são lugares fechados, abafados. Bichos e plantas não se sentem felizes lá dentro..."

Não freqüentava igrejas mas amava um santo: São Francisco. Porque São Francisco foi o homem que via Deus nas coisas da natureza. São Francisco amava tudo o que vivia e, segundo a lenda, as coisas que viviam o entendiam, tanto que ele pregava sermões aos peixes e aos pássaros. Freqüentemente os animais ouvem melhor que os seres humanos...

Foi então que o Brasilino Jardim resolveu plantar um jardim em homenagem a São Francisco. Teria de ser um lindo jardim, com um canteiro de rosas no meio. E assim foi. Vendo as folhas viçosas das roseiras, a primeira rosa que se abrira e os botões que se abririam no dia seguinte, Brasilino foi dormir contente.

Ao acordar pensou logo no jardim. Queria ver se os botões já estavam abertos. Mas, decepção! O que ele encontrou foi devastação. Durante a noite as formigas saúvas haviam cortado todas as folhas e todas as flores das roseiras. Brasilino ficou muito triste. Resolveu aconselhar-se com um vizinho que tinha um lindo canteiro de rosas floridas.

"O jeito é matar as formigas", disse o vizinho. "Formigas e jardins não combinam. Para as formigas jardins são hortas, coisas para serem comidas."

"Matar as formigas? De jeito nenhum. São criaturas de Deus, como todos nós. Se foi Deus quem as fez, elas têm o direito de viver. Formigas têm direitos..." E com essas palavras deixou o vizinho falando sozinho. "Onde já se viu matar as formigas? São criaturas de Deus. Tem de haver outro jeito..."

Pensou: "Se as formigas comeram as roseiras, comeram porque estavam com fome. Não foi por maldade. Se eu der comida às formigas elas deixarão de ter fome e não comerão as rosas".

Dito isso plantou, à volta do jardim de rosas, um anel de cenouras tenras e doces que seriam o deleite alimentar das formigas. Mas as formigas ignoraram as cenouras. Continuaram a comer as roseiras."

Talvez elas não tenham entendido", ele pensou. "Não perceberam nem que as cenouras são deliciosas e nem que são para elas. Ainda não foram educadas. Se forem educadas para gostos mais refinados não comerão as rosas. Serei um educador de formigas."

E como sabia que a noite é o tempo preferido pelas formigas para cortar roseiras, Brasilino passou a dar aulas às formigas durante a noite, peripatéticamente, no seu jardim. Queria que as formigas aprendessem a gostar gastronomicamente de cenouras e plasticamente de rosas.

O vizinho ficou incomodado com aquele falatório noturno. Foi ver do que se tratava. E se espantou. "Brasilino, você endoidou? Pregando às formigas?" Brasilino respondeu: "São Francisco pregou aos pássaros e aos peixes. E eles entenderam. Pois eu vou pregar às formigas e elas haverão de entender." Mas as formigas não ligavam para a aula do Brasilino. Não aprenderam a lição nova. Formiga continua a ser formiga. Continuaram a cortar as roseiras.

Diante do fracasso da pedagogia, Brasilino se lembrou de um recurso inventado pelos humanos chamado "condomínio". O que é um condomínio? São casas cercadas de muros de todos os lados, com o objetivo de impedir a entrada dos criminosos, que ficam do lado de fora. "Farei o mesmo com as minhas roseiras", ele disse triunfante. Ato contínuo tomou garrafas de coca litro, cortou bicos e fundos, fez um corte vertical ao lado e usou esses cilindros ocos como cintas protetoras para os caules das roseiras. "Agora minhas roseiras estão protegidas! As formigas não entrarão!" Pobre Brasilino! Ele não conhecia a esperteza das formigas. Elas sabem fazer túneis, escalar muralhas, passar por frestas, fazer pontes. E quando ele foi ao jardim, pela manhã, viu que as formigas haviam devorado de novo suas roseiras.

Lembrou-se então Brasilino de uma velha estória que relata o feito de um flautista que livrou uma cidade de uma praga de ratos que a infestava. O que foi que o flautista fez? Simplesmente tocou sua flauta! "Ah! A música tem poderes mágicos! Claro, as formigas não entendem a linguagem pedagógica dos argumentos. Haverão de ser sensíveis à magia da música." Comprou uma flauta e pôs-se a tocar o Bolero de Ravel. As formigas reagiram imediatamente. Sentiram o poder da música. Até os bichos têm música na alma. Começaram a mastigar folhas e rosas ao ritmo da música encantadora.

Com o fracasso da música, veio-lhe, então, uma nova idéia: "Se as formigas não podem ser nem conscientizadas pela palavra e nem sensibilizadas pela música, as rosas podem ser. Assim, vou despertar nas minhas rosas o sentimento da não-violência, da beleza da paz. O pensamento tem poder. Se todas as rosas fizerem juntas uma corrente de pensamentos de paz a energia positiva no ar será tão forte que as formigas se converterão..."

Espalhou, pelo jardim, imagens coloridas de paz. Flores sorridentes. Pôs CDs com música sobre rosas, Strauss, Vandré e Caymmi. Tudo, no espaço do jardim, sugeria paz e não violência. Quem visitasse o seu jardim sentia a energia positiva no ar. Mas parece que as formigas não eram sensíveis à energia positiva de paz. Continuaram a cortar as rosas.

Aí ele começou a ter raiva das rosas. "Não compreendo a passividade das rosas! Elas não se defendem! Tinham de se defender! Pois Deus não dotou as criaturas com o direito de defender a sua vida?"

Cobriu então os galhos das roseiras com espinhos pontudos e afiados, facas e espadas que as rosas deveriam usar para se defender das formigas. Mas as rosas não sabiam se defender. Não sabiam usar armas. Eram mansas e desajeitadas por natureza. As formigas continuaram a subir pelos seus galhos sem ligar para os espinhos.

No desespero, Brasilino resolveu tomar uma atitude mais radical, que mesmo contrariava seu sentimento de reverência pela vida: foi para o jardim munido de um martelo e pôs-se a martelar as formigas que se aproximavam das suas roseiras. Mas o número das formigas era imenso. Não paravam de chegar. Matou muitas formigas a marteladas, o que não as perturbou. E havia também o fato de que Brasilino não podia ficar martelando formigas o tempo todo. Precisava dormir. Dormindo, o martelo descansava. E as formigas trabalhavam.

"Já sei!", ele disse. "Apelarei para o Papa. O Papa tem reza forte. Pedirei que ele ore para que as formigas parem de comer minhas rosas" . Escreveu então uma carta para o Papa, expondo o seu sofrimento, e pedindo que ele intercedesse junto aos santos, junto à virgem, junto a Deus... Afinal de contas, as hostes celestiais deviam ter um interesse especial na preservação do jardim, aperitivo do Paraíso.

As autoridades eclesiásticas, de posse da carta de Brasilino, deram a ela a maior consideração, e a colocaram na lista da orações pela paz que o Papa rezava diariamente: paz entre judeus e palestinos, paz entre russos e chechênios, paz entre protestantes e católicos, paz na Espanha, paz na Colômbia, paz no Peru, paz na África... Era uma lista enorme. O Papa orou mas nada mudou. Os homens continuaram a se matar e as formigas continuaram a cortar suas roseiras.

De repente ele ouviu uma voz que o chamava. Era a voz do seu vizinho, que contemplava tudo em silêncio. "Eu tenho uma solução para o seu problema com as formigas, sem que você tenha de matar as formigas.

"Brasilino se espantou: "Como?"

O vizinho explicou: "Você acha que as formigas são criaturas de Deus. Sendo criaturas de Deus têm direito a viver. Você está em boa companhia espiritual. Homens como São Francisco, Gandhi e Schweitzer também sentiam reverência pela vida." Brasilino ficou feliz ao se ver colocado ao lado desses santos.

Seu vizinho continuou: "Mas isso que você diz para as formigas deve valer para todas as criaturas. Certo?" "Certo", concordou Brasilino."Então, por que você não traz um tamanduá para morar no seu jardim? Tamanduás também são criaturas de Deus. E adoram comer formigas! Para isso têm uma língua fina e comprida, que entra até o fundo dos formigueiros! Para o tamanduá, comer formiga não é pecado; é virtude!"

E foi assim que o Brasilino, sem desrespeitar suas convicções espirituais, trouxe um tamanduá para viver no seu jardim.

E o tamanduá engordou, as formigas sumiram, o jardim floresceu e o Brasilino sorriu...

Moral da estória: Quem quiser se livrar das formigas e manter uma consciência tranqüila, que compre um tamanduá...

o texto acima foi extraído do jornal "Correio Popular — Revista Metrópolis", de Campinas (SP), onde o escritor mantém coluna bissemanal.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Começando o Ano com Drummond


Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser diferente...
Para você, desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.
Para você, desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.
Para você neste novo ano,
desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
que sua família esteja mais unida,
que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe desejar tantas coisas.
Mas nada seria suficiente...
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto,
ao rumo da sua FELICIDADE!!!"

Carlos Drummond de Andrade