terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Depois do Carnaval


Terminado o Carnaval, eis que nos encontramos com os seus melancólicos despojos: pelas ruas desertas, os pavilhões, arquibancadas e passarelas são uns tristes esqueletos de madeira; oscilam no ar farrapos de ornamentos sem sentido, magros, amarelos e encarnados, batidos pelo vento, enrodilhados em suas cordas; torres coloridas, como desmesurados brinquedos, sustentam-se de pé, intrusas, anômalas, entre as árvores e os postes. Acabou-se o artifício, desmanchou-se a mágica, volta-se à realidade.

À chamada realidade. Pois, por detrás disto que aparentamos ser, leva cada um de nós a preocupação de um desejo oculto, de uma vocação ou de um capricho que apenas o Carnaval permite que se manifestem com toda a sua força, por um ano inteiro contida.

Somos um povo muito variado e mesmo contraditório: o que para alguns parecerá defeito é, para outros, encanto. Quem diria que tantas pessoas bem comportadas, e aparentemente elegantes e finas, alimentam, durante trezentos dias do ano, o modesto sonho de serem ursos, macacos, onças, gatos e outros bichos? Quem diria que há tantas vocações para índios e escravas gregas, neste país de letrados e de liberdade?

Por outro lado, neste chamado país subdesenvolvido, quem poderia imaginar que há tantos reis e imperadores, princesas das Mil e Uma Noites, soberanos fantásticos, banhados em esplendores que, se não são propriamente das minas de Golconda, resultam, afinal, mais caros: pois se as gemas verdadeiras têm valor por toda a vida, estas, de preço não desprezível, se destinam a durar somente algumas horas.

Neste país tão avançado e liberal — segundo dizem — há milhares de corações imperiais, milhares de sonhos profundamente comprimidos mas que explodem, no Carnaval, com suas anquinhas e casacas, cartolas e coroas, mantos roçagantes (espanejemos o adjetivo), cetros, luvas e outros acessórios.

Aliás, em matéria de reinados, vamos do Rei do Chumbo ao da Voz, passando pelo dos Cabritos e dos Parafusos: como se pode ver no catálogo telefônico. Temos impérios vários, príncipes, imperatrizes, princesas, em etiquetas de roupa e em rótulos de bebidas. É o nosso sonho de grandeza, a nossa compensação, a valorização que damos aos nossos próprios méritos...

Mas, agora que o Carnaval passou, que vamos fazer de tantos quilos de miçangas, de tantos olhos faraônicos, de tantas coroas superpostas, de tantas plumas, leques, sombrinhas...?

"Ved de quán poco valor
Son las cosas tras que andamos
Y corremos..."

dizia Jorge Manrique. E no século XV! E falando de coisas de verdade! Mas os homens gostam da ilusão. E já vão preparar o próximo Carnaval...


Texto de Cecília Meireles, extraído do livro "
Quatro Vozes", Editora Record - Rio de Janeiro, 1998, pág. 93.

Imagem de Antonio Gonçalves Gomides, Pierro e Colombia, óleo sobre cartão

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Despedida

E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.


Conto de Rubem Braga, extraído do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Pseudociese?


Na novela "América" que a Rede Globo exibiu em 2005, a personagem Simone viveu uma Pseudogestação ou Pseudociese, ou seja, teve uma "barriga de mentira", gravidez psicológica ou imaginária.
Segundo especialistas, essa síndrome é de origem mental, mas o corpo responde com sinais de uma real gravidez, com aumento do volume do abdome (barriga), náuseas, vômitos, sensação subjetiva de que o bebê está se mexendo, e até aumento de mamas com secreção de leite. A amenorréia (ausência de menstruação) é um sinal característico.
O Dr. Joel Rennó Jr., médico psiquiatra, coordenador do Pró-Mulher, programa de atenção à saúde psicológica da mulher desenvolvido no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo, esclarece que "algumas mulheres desejam tanto engravidar, ou pelo contrário, temem a gravidez por um medo inconsciente, e acabam apresentando quadro clínico de pseudociese. Ou seja, a falsa crença de estar grávida, associada com sinais objetivos de gravidez. "
Continuando em sua linha de raciocínio, Dr. Joel afirma que "embora o problema possa acometer mulheres de baixo nível de instrução, em sua maioria, não é incomum também acometer mulheres solteiras, magras e com profissões consideradas 'intelectuais'. O histórico de problemas psicológicos, sexuais e traumas sócio-ambientais devem ser investigados".
Fizemos tais considerações para chegar ao foco do tema escolhido: a jovem Paula Oliveira, advogada de 26 anos de idade, vivendo na Suiça, foi alvo da imprensa com grande repercussão no Brasil, ao afirmar ter sido alvo de ataque de neonazistas na noite de 9 de fevereiro de 2009, na estação de trem de Stettbach, em Zurick, com ferimentos provocados por um instrumento cortante.
Ao ser socorrida, apresentando cortes em diversas partes do corpo, especialmente no abdomem e pernas, Paula informou ter sofrido aborto espontâneo no banheiro da estação, logo após o ataque, e que se tratava de gravidez gemelar.
Durante as investigações os médicos que a examinaram afirmaram que a jovem não apresentava sinais de gestação recente, e que os cortes supostamente provocados por neonazistas, numa retaliação xenofóbica, na verdade tratavam-se de automutilação.

Cabe-nos, então, indagar se tantos especialistas envolvidos na investigação não pensaram na possibilidade de uma pseudogestação, com todas as implicações que o quadro apresenta, principalmente se considerarmos as afirmações do Dr. Joel Rennó Jr. acerca de possível trauma sócio-ambiental?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Para encerrar esta seleção de videos peguei um bem lá no fundo



quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Acho que Woodstock foi a maior loucura de todos os tempos.
Em breve selecionarei mais alguns videos deste monumental festival


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Voces se lembram do tremendo sucesso que fez esta musica?



terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Esta é para viajar... Send me an Angel



Afinidade


A afinidade não é o mais importante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. O mais independente.
Não importa o tempo, a ausência, os adiantamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido. Afinidade é não haver tempo mediando a Vida.
É uma vitória do imaginado sobre o real. Do subjetivo sobre o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial. Ter afinidade é muito raro. Mas quando existe, não necessita de códigos verbais para se manifestar! Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. O que você tem dificuldade de explicar a um não afim, sai simples e claro diante de alguém com afinidade.
Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavra. É receber o que vem do outro com aceitação antes do entedimento. Afinidade é sentir com, nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por. Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado. Sentir não é como ter necessidade de explicar o que está sentindo. É olhar e perceber. É mais calor do que falar. É compreender sem ocupar o lugar do outro.
Quem aceita para poder questionar, não nega ao outro a possibilidade de ser o que é, da maneira que é. Isso é afinidade. Pode existir com ou sem amor. Independente dele. A quilômetros de distância. Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças. É retomar a relação do ponto em que parou, sem lamentar o tempo da separação. Porque tempo e separação nunca existiram. Foram apenas as oportunidades dadas (tiradas) pela vida, para que a maturação comum pudesse se dar. Sensível é a afinidade.

Imagem: As Luluzinhas, 48 anos de amizade e afinidades.
Texto: autoria desconhecida, colaboração da "Luluzinha" Tânia M.Hoehne

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Esta vai para a Cidinha
Blowing in the wind



domingo, 8 de fevereiro de 2009

FOREVER YOUNG


sábado, 7 de fevereiro de 2009

Amo esta música! TRUE


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

So Happy Together
Muito antigo!


Bem mais moderninho!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009


Vamos remexer mais um pouquinho no baú?
HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Por Trás de um Grande Homem...


...só poderia ter alguém como Michelle Obama! A nova primeira-dama dos EUA tem dado um banho de estilo em suas opções de vida e nas declarações públicas. Avessa a dogmas, consumismos e marcas, três fatores que determinam a escala de poder em qualquer lugar do mundo, Michelle vem provando que é muito mais do que apenas a eminência parda do marido presidente.

Formou-se em advogada, em Harvard onde Obama também se formou e tem a mesma facilidade de oratória do marido. Durante a campanha, ela foi uma peça fundamental quando subia no palanque e compartilhava suas preocupações com os eleitores, explicando como pretendia ajudar Obama nas questões sociais. Deixou de exercer a profissão para se engajar na campanha do marido, mas nem por isso descuidou da educação das filhas, Sasha e Malia. O casal coloca a união familiar como alicerce de seu sucesso.

A propósito, a pragmática Michelle surpreendeu uma das mais experientes apresentadoras da TV Americana, Barbara Walters, quando contou que determinou que as meninas continuem arrumando suas camas ao acordarem, como faziam anteriormente. Recomendou às arrumadeiras da Casa Branca que deixem essa tarefa para as meninas. E explicou a elas: “vocês não vão morar a vida toda na residência oficial do governo”.

Simples, sincera e verdadeira, Michelle aborda a questão do preconceito racial com a maior naturalidade. Disse que já sentiu o problema na pele nos tempos de faculdade, quando foi discriminada pela mãe de sua companheira de dormitório que mudou a filha de quarto ao saber que ela o estava dividindo com uma negra. Realista, Michelle contou à entrevistadora que, apesar de magoada, entendeu a situação, mas, a partir daí, entregou-se de corpo e alma aos movimentos contra qualquer tipo de discriminação.

Outra decisão de Michelle que demonstra o seu modo de ser foi a escolha do estilista que desenharia os vestidos para a cerimônia de posse e para os bailes de gala. As colunas sociais especulavam e arriscavam nomes famosos da moda internacional. Qualquer um deles daria a vida para vestir a primeira-dama dos EUA numa ocasião como essa.

Todo mundo quebrou a cara. Michelle escolheu um jovem imigrante de origem chinesa, estabelecido em Chicago, onde ela sempre comprou seus vestidos. Ela não o abandonou e fez questão de prestigiá-lo usando modelos exclusivos desenhados por ele. É ou não é uma pessoa de personalidade?

Outra decisão inédita. Michelle anunciou que vai criar um trabalho social onde vai pessoalmente dar apoio às famílias dos militares que morreram no Iraque e no Afeganistão e também dos que continuam lutando nos campos de batalha. Ela afirmou que “quando os soldados vão para a guerra, levam suas famílias junto. Se morrem, um pedaço delas vai também”.

Nesse momento de crise quando o mundo inteiro está mudando hábitos de consumo, gastando menos, reaproveitando mais vestimentas, utensílios e até mesmo a própria comida, melhor primeira-dama que esta impossível.

Segundo a tradição, as mulheres de presidentes devem acompanhar seus maridos. Mas não basta comparecer a eventos oficiais e posar para fotos, como a maioria. No caso de Obama, um homem que virou um ícone mundial por tudo que os países e as pessoas esperam dele e pelo que ele representa em termos de carisma e ideais de liberdade, Michelle não poderia ser diferente!

Texto: Leila Cordeiro, publicado no site Direto da Redação, em21/01/2009