sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Eu desejo, pra mim e pra você!


Queria ser uma fada madrinha, daquelas bem poderosas

Sempre gostei da imagem das fadas, principalmente as animadas, dos filmes infantis, aquelas gordinhas que aparecem dando poderes aos róseos bebês dos reis e rainhas bons, em seus berços de ouro, às vezes três, juntinhas, risonhas, cada uma com um vestidinho de uma cor. Amarelinho, rosinha, azulzinho, com pequenas variações, e sempre sacudindo uma varinha nas mãos, e dando ordens numa língua pirlimpimpim, cheia de brilhos. Sou doida pela Sininho, a fadinha do Peter Pan, eternamente apaixonada, muito louca com seus pózinhos e suas sacanagens de mini-mulher-libélula ciumenta do garoto que não quer crescer. Sininho, sempre em dúvida entre o grande gancho do Capitão e o menino. Cresci com essas imagens, invocando-as sempre que gostaria de poder fazer algo para alguém, imediatamente. Sempre funcionou.

Então, agora, me concentro, mas sozinha, sem varinha, uma pena, se é que me entendem. Mas querendo, de coração, ser atendida. Eu desejo que agora em 2009 você consiga ser feliz, muito feliz. Tenha tudo do que precisa para viver e não morrer e não sofrer. Não tenha que depender de ninguém com quem não poderá contar. Que os segundos, minutos, dias, meses, passem suaves, inclusive em seu corpo, rejuvenescendo-o. Que a água que você beba seja da Fonte da Juventude. Que seus passos sejam firmes, em direção ao futuro, ao progresso e ao Bem. Que sua voz soe suave para quem ama; e temível, muito temida, pelos seus inimigos. Que seus olhos enxerguem muito além do horizonte. Que seus ouvidos sejam sensíveis o bastante para ouvir as tramóias sussurradas às suas costas, e que estas estejam sempre protegidas, blindadas, intransponíveis.

Quero que você não sofra desilusões pessoais, e que não te traiam, nem a confiança. Quero que mantenha o amor que encontrou, ou encontre o amor que tudo fará para manter, sob a luz da Lua, e que esta a todos enamore. E que o Sol nasça para todos, mesmo que se impondo em quadrados de quartos ou prisões. Que sempre haja a sombra da copa de uma árvore para seu abrigo e um canto seguro onde possa guardar seus segredos mais íntimos. E os que lhe confiarem.

Quero ver você dançar a dança da sua música, com alegria em cada passo, em cada ritmo, e sempre música boa, de alma. Quero ver você lamber os beiços saboreando o brigadeiro, o doce-de-leite, o quindim ou o pão de queijo quente, e os dedos lambuzados da forma roubada da massa que ainda vai virar bolo. Nada disso lhe fará mal, ou engordará. Que você dê gargalhadas diante de um milk-shake de chocolate, e com o barulhinho do canudinho puxado no fundo, na raspa da taça.

Que você ande quilômetros, firme, altivo, e que seus sapatos jamais fiquem apertados ou calejem seus pés, nem nos saltos altos, nem nas sandálias, que nem sempre são de humildade. Que nem calcinhas, nem cuecas, nem gravatas, nem soutiens te apertem, saiam do lugar, que essas coisas nunca te incomodem.

Que você vá a muitas festas, e que nelas faça a diferença, sendo notado no que há de melhor, mais belo, não nos erros procurados sempre pelos olhares maldosos. Que a fada te livre desses olhos gordos, maus, invejosos. E que você possa sempre respirar o ar das montanhas, puro, mesmo que daquele ar condicionado com que tem de conviver. Que você descubra um passatempo só seu para o trânsito não irritar, e que você vá e volte, livre, para o conforto e aconchego de seu lar. Que seu travesseiro o acolha, abrace e o aconselhe bem a cada noite. Nas manhãs, que o canto mais belo dos pássaros seja seu despertador. E, claro, que as flores mais lindas e coloridas nasçam nos jardins que tocar.

Eu desejo desde já muita sorte. Na loteria. Na vida. No amor. Nas escolhas. Que a fada do banco baixe os juros do seu cheque especial, reparta sua dívida, e tudo sem você implorar ao gerente. Que seu emprego, suas rendas, seu salário sejam mantidos, preservados, em dia. Que jamais tentem te fazer de relógio, mas que sobrem sempre muitas horas para você dedicar, solidário, ao seu próximo.

Como fada madrinha, gostaria ainda que você habitasse um mundo justo, democrático, onde as leis existam para ser cumpridas, e onde a liberdade de seu pensamento, religião e expressão, por mais diversificada que possa ser, mereça respeito em seu redor, seja ele a favela, a casa, a casinha, o sobrado, a mansão, a cidade, a cidadinha, a metrópole ou megalópole. Que não tentem enganá-lo, roubá-lo, iludi-lo. Que consigamos todos nos livrar do Mal.

De minha parte, já vejo tudo assim, real, acontecendo. E espero que você me retribua sempre apenas com a generosidade de sua leitura, com o carinho de sua lembrança.

Texto: Marli Gonçalves, jornalista, cheia de desejos e vontades. Sem pó de pirlimpimpim. Tem uma caixinha de Pandora, de bondades. Mas também tem arco, flecha, tacape e pintura de guerra para quem mexe com sua tribo. http://www.ucho.info/marli_goncalves.htm

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