sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Série Mulheres Notáveis - PAGU

Uma Grande Mulher

..."Descendente de paulistas quatrocentões e de imigrantes alemães, Patrícia Galvão (1910/1962) viveu numa época extraordinária, marcada pela Semana de Arte Moderna de 1922. Jovem precoce, começou a escrever muito cedo, e logo se tornou conhecida no meio artístico. Convivia com os modernistas liderados por Oswald Andrade: Mário de Andrade, Anita Malfatti, Benjamim Peret, Tarsila do Amaral (mulher de Oswald), Raul Bopp...

Foi o gaúcho Bopp quem lhe deu o apelido, aliás nascido de um equívoco: achou que o nome era Patrícia Goulart e abreviou-o para Pagu. Por Oswald de Andrade, que via nela o "mais autêntico símbolo feminino da ousadia e inconformismo artístico e cultural de seu tempo", ela se apaixonou perdidamente. Ele separou-se de Tarsila; casaram em 1930. No ano seguinte, ingressaram no Partido Comunista; editavam o jornal O Homem do Povo. Neste, e com sua característica independência, Pagu mantinha a coluna A Mulher do Povo, por ela própria ilustrada, e que pretendia mobilizar as mulheres brasileiras para as lutas sociais.

Em 1931, depois de ter sido presa por participar num comício dos estivadores em Santos, teve de fazer sua autocrítica para o Partido Comunista; declarou-se então "uma agitadora individual, sensacionalista e inexperiente". Viajou pelo mundo como correspondente de vários jornais. Sua visita à ex-União Soviética foi, contudo, decepcionante; em Moscou ela via "gente pobre nas ruas e luxo para os burocratas".

Na volta, o casamento com Oswald já terminando, foi presa pelo Estado Novo, por ocasião da chamada Intentona Comunista de 1935. Nos quatro anos e meio de cárcere, sofreu cruéis torturas. Libertada, deixou o Partido Comunista, casou com o também jornalista Geraldo Ferraz e foi morar em Santos. Lá fazia jornalismo cultural, e trabalhou em teatro como tradutora e diretora. Até o fim manteve a sua orgulhosa independência. O verdadeiro artista, disse, é indiferente à opinião dos críticos: "O que lhe importa é abrir novos caminhos para a arte".

O Brasil nunca tratou muito bem suas mulheres. Só em 1880 tiveram acesso à educação formal, e só há 68 anos conquistaram o direito ao voto. As mulheres representam 51% da mão-de-obra, mas continuam ganhando menos que os homens e ocupando menos cargos de chefia. Para enfrentar esta conjuntura é preciso muita coragem. Coragem que não faltou à Pagu como não falta a milhões de outras brasileiras. O Brasil é Pagu. O Brasil é a mulher brasileira..."

Texto de Moacyr Scliar, abril/2005
Tela de Pagu, pintada por Di Cavalcanti


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