terça-feira, 11 de dezembro de 2007

O Mestre do Amor




- “Vinde possuir o reino que vos foi preparado, porque estive nu e me vestistes” - Jesus (Mateus, 25:31-46).

Nasceu Jesus como todos nós, trazendo no coração seus ensinamentos sintetizados na ciência do existir com amor. Imaginamos que foi acompanhado por uma multidão de Espíritos santificados, com a mensagem de paz e de boa vontade de Deus para com os homens. Formou o seu corpo espiritual com os fluidos mais puros do planeta, desenvolvendo seu corpo físico no ventre de sua mãe. Realizava-se na Terra mais um ato de amor entre um homem e uma mulher, de dois Espíritos iluminados, que tiveram a missão de receber o Cristo de Deus. O seu primeiro ensinamento evidencia-se nas condições precárias do seu nascimento numa estrebaria, onde dóceis animais dividiram o espaço com o arquiteto e governador do planeta. Veio para servir e consolar, amar e reafirmar o amor do Pai pelos filhos da Terra.
Bastou-lhe, inicialmente, uma estrebaria, envolvido por alguns panos simples. Teve como berço uma manjedoura, crescendo entre humildes e deserdados, a fim de reunir e apascentar o rebanho terreno. Seus pais não possuíam recursos para uma estalagem e, como sem-teto que eram, ninguém lhes ofereceu hospedagem. Fora do alcance dos olhos humanos a Terra se iluminou e cânticos suaves tocaram os corações dos que o aguardavam há milênios, cheios de esperança e ansiosos pela própria redenção.
É com tal simplicidade, e de acordo com a realidade do mundo, que imaginamos o seu nascimento, isentando os Evangelhos assinados por Mateus e Lucas, de fábulas e outros prejuízos, como as claras adaptações às profecias do Antigo Testamento.
O ser humano, como as crianças, às vezes tem necessidade de mitificar os acontecimentos, colorindo-os de forma a torná-los atraentes. Os homens precisam, muitas vezes, preencher lacunas imaginárias, para dar credibilidade aos fatos. Acrescentam alguma arte à história, segundo a própria expectativa. Constroem uma moldura para um quadro muito humano – neste caso a de um Espírito, embora da envergadura moral de Jesus, um messias de Deus, nascendo sob o desamparo dos homens. O espírito Jesus jamais desprezaria a oportunidade de mostrar que todos somos iguais perante Deus.
É fato sabido que os escritos evangélicos sofreram alinhamentos, ajustes e acréscimos ao longo dos séculos, pelos tradutores das diversas épocas. Infelizmente ainda se processam alterações nos Evangelhos, com desculpas de modernização e de melhor compreensão. Isto pode ser constatado naqueles dirigidos a escolares de determinadas confissões religiosas, dos quais são suprimidos diversos trechos, justamente aqueles que podem acarretar dúvidas com relação aos dogmas de fé. Tais ações representam atos lesivos ao maior patrimônio de sabedoria espiritual destinado à Humanidade. Jesus veio para nos consolar e testemunhar a verdade – adulterar seus ensinamentos é ato de irrefletida imprudência.
É importante lembrarmos de que somente ele e nenhum homem, Espírito ou instituição, de qualquer posição, pode se colocar como caminho para a nossa redenção, através da verdade libertadora, que nos encaminha para a Vida Maior, após sucessivas e misericordiosas existências carnais. Ele é o pastor das almas que se abrigam na Terra. Em parte somos as ovelhas perdidas de Israel, que o Pai lhe deu para tomar conta. Doou para nós a sua existência, ressurgindo após a cruz sob a luz diáfana do seu corpo espiritual, de fácil percepção nos escritos do Evangelho segundo João.
Nasceu numa região onde, apesar da crença em Deus e dos mandamentos da lei, era comum a escravização, a lapidação e a crucificação dos que infringiam as leis, e não se acreditava firmemente nos poderes do amor e da vida.
O nascimento mitificado de Jesus esteve de acordo com uma época em que a proposta era manter a humanidade no reino dos mistérios, dos milagres e da fé inquestionável, tendo o sexo como pecado. Tal mistificação foi uma forma de manter o homem no reino da ignorância, impedindo-o de crescer através do uso da própria razão – tal fenômeno ainda ocorre em nosso país, através de uma mídia televisiva sem compromisso com o verdadeiro Cristianismo.
Felizmente tudo isso está sendo superado, apesar da teimosia humana, relutante ao entendimento de que o nosso reino não é deste mundo, onde tudo é efêmero e simples aprendizado. Lentamente, com surpresas e conflitos dolorosos, o homem vai aprendendo a amar, sublimando-se espiritualmente, buscando no amor ao próximo o apoio imprescindível para a sobrevivência moral e suporte para as provas terrenas. Devagar vamos discernindo que o nosso Consolador só pode ser encontrado no coração da caridade – onde existem muitos pequeninos abandonados, de todas as idades e condições.
Fundamentados na realidade do mundo, muito melhor hoje do que há dois mil anos, em que mortes e perseguições deviam ocorrer sem maiores justificativas, podemos imaginar um carpinteiro humilde, com algumas ferramentas, em serviço itinerante, trabalhando pela sua família na obtenção do pão de cada dia. Acompanhado de Maria, e possivelmente de outros filhos, sem recursos recorreu a uma estrebaria, para que Maria tivesse um mínimo de privacidade, e algum conforto para o pequeno. É uma cena real cheia de vibrações amorosas, mas não isenta de ansiedades, tendo como cenário a natureza, para recepcionar o Cristo Planetário.
Podemos imaginar uma família de catadores de papelão, com uma carrocinha e um cachorro, com a mulher grávida, atravessando a cidade, pronta para trazer à luz mais uma criança ao mundo. Existem hoje maternidades e recursos médicos para acompanhar o nascimento dessas crianças. Tais famílias, porém, se abrigam como podem em lares precários, mas não ausentes do amor possível.
Longe de tais reflexões desmerecerem a grandeza sublime do Mestre, exaltam a sublimidade de sua missão junto aos pequeninos da Terra.
Isto responde àqueles que colocam como desculpa de sua descrença em Deus, no fato de haver no mundo tanta miséria, injustiça, sofrimento e desamparo – reflexos quase sempre do egoísmo humano. Ignoram que a misericórdia divina nos proporciona as provas de que precisamos para a própria redenção e crescimento espiritual, sem que as condições de nascimento e de pobreza impeçam as nossas realizações, mormente aquelas que estejam de acordo com os planos divinos.
Jesus veio para realizar seu batismo de fogo, mergulhando de corpo e alma em nosso planeta, a fim de o ensinar o necessário para a nossa redenção. Sem nada possuir de bens terrenos, mostrou que nos basta o amor para algo doarmos ao próximo. Boas palavras, entendimento, afeto, simpatia, mansidão, tolerância, amor, pureza, honestidade, bênçãos e paciência nada custam materialmente – e qualquer proteção, fruto do altruísmo, pode custar quase nada. Como nos mostra Emmanuel, pelo menos no início de sua vida terrena, o Mestre foi um sem-teto. Apesar de toda riqueza atual, muitos sem-teto percorrem nossas ruas, sem nenhuma proteção. Eles também gostam de comemorar o Natal comendo, bebendo e se alegrando, solidários e fraternos.
Nós estaremos reunidos em torno de uma mesa, mais ou menos farta, de acordo com o gosto e as posses de cada um. Poderíamos nesse dia orar, agradecidos a Deus e a Jesus, por todo amor com que vêm cuidando de nós. Nada custa pedirmos pelos pequeninos do mundo - os da infância desamparada - e por todos os que teimam em viver longe das leis do amor. Imploremos por nós mesmos, filhos das mulheres de Jerusalém, a fim de que nossas lágrimas se transformem em lágrimas de caridade e de amor pela verdade. Agradeçamos pelas graças do Pai, que nos prepara para possuirmos o reino dos céus, onde a fraternidade e o amor são ocorrências naturais.
Poderíamos doar o mesmo valor que estaremos gastando no Natal com presentes, comidas e bebidas para orfanatos, asilos e outras casas de caridade – ou simplesmente colaborando com as festas dos sem-teto. Entre eles há muitos pequeninos, e podem ter chegado, como missionários de Jesus, para impulsionarem a renovação moral do planeta, completando a transformação para um mundo melhor.Lembremo-nos do ensinamento do Mestre, que solicita nosso esforço para entrarmos pela porta estreita da vida, antes que o Pai de família a feche. Corremos o risco de ficarmos do lado de fora se não acordarmos de nosso sono letárgico de privilegiados do mundo. De nada nos adiantará depois batermos à porta, pedindo para entrar, se não tivermos aprendido com o nosso Mestre sobre o amor que nos une a Deus e ao próximo.
Texto: Adonis J.Soraggi

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