quarta-feira, 13 de agosto de 2008

SIMPLIFICANDO A MEDITAÇÃO




Uma das formas de desmistificar a meditação é despi-la de seus conceitos exóticos – yoga, gurus, swamis, zen, iluminação. Basicamente, a melhor utilização de meditação é para aliviar dores crônicas e distúrbios relacionados ao estresse, desenvolvendo o conhecimento entre o corpo e a mente.

O primeiro exercício de meditar não é respiratório, tampouco sentar-se na postura perfeita de lótus, nem visualizar uma bela paisagem... É simplesmente comer alguma coisa – por exemplo, uma uva. Olhe a uva, sinta-a, cheire-a e com atenção leve-a à boca devagar, reparando que logo a saliva começa a ser secretada pelas glândulas salivares. Depois, ponha a uva dentro da boca e comece a saboreá-la... Em geral, as pessoas nunca saboreiam o que comem por se ocuparem somente em comer. A partir daí, pode-se começar a perceber que não estamos em contato com muitos momentos da vida, pois estamos ocupados demais de um lado para outro que não vivemos o presente. E a vida de uma pessoa é a soma de seus momentos presentes. Perdendo grande parte deles, talvez se percam realmente grande parte da infância e juventude dos filhos, magníficos pores-do-sol, a beleza do próprio corpo... Pode-se estar alheio a todos os tipos de experiências internas e externas, apenas porque se está demasiadamente preocupado com onde se quer chegar, o que se espera que aconteça ou não aconteça. Quando se presta atenção ao ato de comer, percebe-se que ele inclui numerosas coisas diferentes – o mastigar, o saborear, o funcionamento da língua... Tudo isso relacionado com a concentração. Comer devagar e degustar, ajudam a nos trazer para o momento presente. Depois, pode-se transferir a consciência da comida para a respiração, saboreando a respiração da mesma forma.A respiração é essencial em qualquer aspecto do treinamento da meditação. Quando se experimenta o fluxo da respiração, com freqüência surge a mesma reação verificada ao se comer a uva com consciência – inteiramente calmo e presente, concentrado no momento. No caso do estresse e da dor física, por exemplo, comece a respirar com a dor e com as tensões e ansiedades – dar a volta por cima da dor e do estresse e conviver com eles. Observando se consegue controlar as ondulações das sensações, você começa a perceber que o ir e vir dessas sensações tem vida própria. E também começa a aprender conviver com elas, a lidar com elas, ajudá-las, escutá-las, respeitá-las. Feito isso, é comum que desapareçam as sensações desagradáveis. Entrando no estresse e na dor, examinando ambos, observe as reações da mente – você descobre que há calma e paz dentro de algumas das situações mais duras da vida. A mente não desenvolvida nem treinada é geralmente muito dispersa. A mente vai para algum lugar, enquanto o corpo fica aqui. Nesse estado, não conseguimos atuar em nossa melhor forma. A mente parece ter vida própria, ela quer circular por lugares diferentes e fica muito difícil concentrar-se. Aprender a olhar em profundidade a conversa da mente com o corpo, é uma forma de se tornar mais consciente de seus padrões, libertar-se da conversa interior e acalmar-se. Em caso de síndrome do pânico, por exemplo, a função observadora identifica-se com o conteúdo medroso da mente. Então, o medo adquire vida própria e começa a tomar conta da existência. Mas se a pessoa recuar, olhar o medo, observar que ele costuma assumir a forma de pensamentos e impressões na mente e não identificar-se com esse conteúdo mental, passará para o posto de observação. Aprendendo a recuar de seus próprios processos mentais a ponto de renunciar às identificações fortes, inconscientes, como "eu, meu, minha”... Meditar significa perceber que a mente conversa constantemente. E essa conversa termina sendo a mola propulsora que nos motiva a maior parte do dia, em termos do que fazemos, ao que reagimos e como nos sentimos. A prática da meditação ensina as pessoas a se manterem no momento presente e observar calmamente as ocorrências no campo da sua consciência, como se fossem ondas surgindo na mente – já não sendo mais tomadas pelo conteúdo emocional, nem engolidas pelo terror. Compreende-se, então, que esses são pensamentos também, e retorna-se ao plexo solar, ao diafragma e à respiração. Se a mente se desgarra um milhão de vezes, simplesmente a trazemos de volta um milhão de vezes.Temos de criar algum tempo, todos os dias, que seja nosso tempo de simplesmente ser. E depois, quando surgirem situações estressantes, em que nos sintamos mais pressionados, haverá um momento no qual lidar com a situação, encontrando uma reserva de paz interior, estabilidade e discernimento.

O único momento que qualquer um de nós tem para crescer ou mudar, sentir ou aprender qualquer coisa é o momento presente. Mas existe um bocado de gente que corre ao redor do planeta, tentando chegar a algum lugar, sentindo-se muito infelizes, perdendo o momento presente, de modo quase obstinado, por não prestar atenção, sendo que poderiam sentir-se à vontade em seu próprio corpo neste exato momento. Em vez de viajar no piloto automático, podemos explorar o que aconteceria se começássemos a acender a chama de estarmos inteiramente vivos, aqui e agora.

Norberto José Teixeira

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